
Ciência
21/01/2020 às 07:00•2 min de leitura
Uma pesquisa liderada pelo astrônomo Philipp Heck, da Universidade de Chicago, sugere que a rocha espacial Murchison, que colidiu em território australiano ao final da década de 60, contém a espécie material mais antiga já conhecida na história da Terra, fragmentos de poeira estelar datados de 5 a 7 bilhões de anos, período mais antigo do que a estimativa de idade e formação de nossa massa planetária. O projeto ainda conta com coautoria da brasileira Janaína N. Alves.
A pesquisa, divulgada pela CNN, caracteriza "um dos mais excitantes estudos" do grupo de pesquisadores, segundo palavras de Heck, e pode oferecer um novo panorama sobre a formação do sistema solar. A poeira estelar, identificada em sedimentos do meteorito, acumulou-se durante milhões de anos, carregada por ventos estelares, e possui cerca de 8 mícrons de diâmetro, existindo de forma escassa e praticamente imperceptível na constituição de sólidos espaciais.
Pesquisadores que não estavam relacionados com as principais descobertas de Murchison, mas passaram a estudar o caso, classificaram a poeira identificada como espécies de "grãos pré-solares", aglomerados interestelares formados antes da constituição da galáxia. Segundo David Bekaert, pesquisador do Centro de Pesquisa Petrográfica e Geoquímica (CPRG) em Nancy, na França, sua existência já era conhecida, mas havia imensas dificuldades em datá-los por conta da falta de conhecimento para fins analíticos.
Porém, o caso da rocha "australiana" trouxe novas possibilidades para o estudo dos fragmentos, já que possuia grãos estelares bem maiores do que os já conhecidos, algo em torno de 2 a 30 mícrons, tornando-os visíveis em microscópios. Após a identificação, pedaços da rocha foram transformados em pó para, somente assim, virarem uma espécie de pasta cáustica, permitindo a dissolução e a separação de grãos pré-solares com ácido.
Com o material estelar já separado de sua fonte, técnicas de emissão de raios cósmicos foram utilizadas, permitindo a observação do interior da poeira estelar e sua posterior datação, que registrou grãos entre 4,6 bilhões e 7 bilhões de anos atrás, comprovando que a formação do meteoro Muchison já iniciou-se durante um período pré-galáctico.
Assim, Bekaert assume que o estudo resultou em "uma conquista técnica impressionante" e em "novas ideias sobre a evolução da matéria" no sistema solar.