Artes/cultura
13/05/2020 às 14:30•2 min de leitura
Em 24 de janeiro de 2018, o cientista espacial James L. Burch recebeu um email de um tecnólogo em eletrônica canadense, Scott Tilley. Na mensagem, a resposta para uma pergunta de 13 anos: que fim havia levado o satélite IMAGE da NASA. Tilley o havia localizado.
Ele é apenas um entre milhares de astrônomos amadores que vasculham os céus atrás de satélites perdidos, desaparecidos, abandonados e, principalmente, inexistentes – pelo menos, oficialmente.
A IMAGE trouxe fama a Tilley. Lançada para medir partículas na magnetosfera terrestre e estudar sua interação com os ventos solares em março de 2000, ela funcionou perfeitamente até 2005, quando deixou de se comunicar com a Terra.
Este não foi o único achado entre os chamados “satélites zumbis” que orbitam o planeta – o resultado da última busca de Tilley ele anunciou no Twitter, em fins de março.
Well folks, here's what appears to be a new ZOMBIE SAT!
— Scott Tilley (@coastal8049) March 25, 2020
LES-5 [2866, 1967-066E] in a GEO graveyard orbit.
Confirmation will occur at ~0445 UTC this evening when the satellite should pass through eclipse.
If so this is definitely the oldest emitting GEOsat I know of. pic.twitter.com/QFSRb5bT1I
O site Space conversou com o grupo que se reúne em uma lista de discussão, a SeeSat-L. Criada em dezembro de 1994, ela reúne quem queira "observar, atualizar o paradeiro de objetos espaciais, desenvolver estratégias para encontrar satélites recém-lançados, escrever software de computador e tentar descobrir a missão das sondas com base em suas órbitas", segundo a descrição da lista.
"É comum que um participante esteja envolvido em várias atividades ao mesmo tempo”, disse ao site Ted Molczan, atualmente um dos que gerenciam a lista.
Molczan passou boa parte dos anos 1980 rastreando satélites espiões do governo. Uma de suas missões mais memoráveis aconteceu no Ártico: ele e outros testemunharam, em fevereiro de 1990, o ônibus espacial Atlantis lançar em órbita o MISTY, o satélite secreto USA-53 destinado a espionar os adversários da América.
Desde a Operação Moonwatch que amadorismo e profissionalismo se complementam. A ideia do diretor do Observatório Astrofísico Smithsoniano, Fred Whipple, era que cada astrônomo amador do planeta se juntasse ao esforço mundial para rastrear os satélites lançados para o Ano Geofísico Internacional de 1957-1958.
A Operação Moonwatch engajou amadores do mundo inteiro, como esses estudantes japoneses.
Primeiro menosprezada, a Operação Moonwatch ganhou respeito quando os satélites russos Sputnik 1 e 2 foram lançados, sem que houvesse programas de rastreamento operacionais; as observações dos times amadores da iniciativa se tornaram a principal fonte de informação.
Desde meados dos anos 1990, virou um hobby respeitado apontar telescópios para encontrar e rastrear o que esteja em órbita baixa. Em 2010, astrônomos amadores ajudaram a identificar todos os grandes objetos em órbita terrestre e mais:
“Em 2011, a Rússia pediu nossa ajuda para encontrar a sonda Phobos-Grunt, com amostras do solo marciano a bordo, antes que ela caísse no Oceano Pacífico depois de sua reentrada", contou Molczan, acrescentando que, em 2015, o rastreamento óptico e por rádio de amadores ajudou a Planetary Society a rastrear seu satélite LightSail.
Agora, esse batalhão de anônimos pelo mundo está fornecendo aos astrônomos dados sobre o brilho dos Starlink. Isso ajudará a determinar o potencial da constelação de satélites da SpaceX para interferir nas imagens obtidas por telescópios terrestres.
Um exemplo do estrago que a constelação de satélites da SpaceX faz em imagens de telescópios.
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Nada escapa dos telescópios dos caçadores de satélites via TecMundo