Estilo de vida
09/06/2020 às 04:00•2 min de leitura
Durante a atual onda de protestos pela morte brutal de George Floyd por policiais nos Estados Unidos e contra o racismo sistêmico, milhares de pessoas foram às ruas, e em alguns casos foram reprimidas por forças de segurança que utilizaram o gás lacrimogêneo.
Também no Brasil, em manifestações realizadas pela democracia no final do mês passado (31), milhares de pessoas foram expostas à substância e tiveram a sensação de ardência, picada e asfixia do "gás". Quem estava de máscara para se proteger da covid-19, teve que arrancá-la para respirar.
A agência de jornalismo investigativo norte-americana ProPublica, que se dispõe a "expor abusos de poder e traições da confiança pública", lançou um alerta na última quinta-feira (4) sobre os perigos do agente químico.
Após ouvir especialistas, eles afirmam que o gás lacrimogêneo não é seguro e pode trazer sérios danos à saúde em longo prazo. Pior: os irritantes químicos prejudicam mesmo aqueles que não são alvos, como as pessoas que estão dentro de casa ou em locais próximos.
Fonte: Mark Makela/Getty Images-Reprodução
A verdade é que não existe um gás lacrimogêneo. Este é só um nome genérico para um grupo de substâncias químicas irritantes que, ao causar uma sensação imediata de queimação, são capazes de dispersar multidões.
Esses agentes químicos (nos EUA se usa o 2-clorobenzilideno malononitrilo) causam irritação nas mucosas e nos olhos, com lacrimejamento (daí o nome do gás), espasmos nas pupilas, tosse, dificuldade para respirar e ardência na pele.
O desconforto acontece quando os químicos atingem um receptor cerebral específico chamado TRPA1, que dispara uma sensação de dor no sistema nervoso. Os órgãos reagem e tentam "afogar" o invasor com fluidos corporais, principalmente lágrimas e muco.
Fonte: Jose Carlos Fajardo/Getty Images - Reprodução
A Convenção Internacional de Armas Químicas, assinada em Genebra no ano de 1993, proibiu a utilização do gás lacrimogêneo em locais onde força militares estiverem em guerra. Isso se deve ao fato de que suas concentrações em altos níveis e em espaços fechados podem ser letais.
No Brasil, as Forças Armadas e de segurança pública podem usar o gás lacrimogêneo em situações extremas como briga de torcidas, tumulto generalizado e rebeliões em presídios como recurso último, após frustrados outros recursos, como presença ostensiva e armas de efeito moral.
Na última terça-feira (2) um grupo de 1.300 profissionais da saúde dos Estados Unidos assinou um pedido para que as polícias não usem o gás lacrimogêneo ou outros irritantes durante a pandemia "por tornar o trato respiratório mais suscetível à infecção".