Estilo de vida
23/06/2020 às 04:00•2 min de leitura
Uma das principais estratégias para o combate à pandemia de covid-19 é testar o maior número de pessoas. A testagem em massa pode ajudar a calibrar as medidas de isolamento social, além de ajudar a dimensionar a resposta do sistema de saúde à crise sanitária.
Os principais testes amplamente difundidos trabalham com a detecção da presença de anticorpos contra o Sars-Cov-2 no sangue. Os testes sorológicos apresentam resultado positivo quando as pessoas já foram infectadas pela doença anteriormente.
Mas os testes dos anticorpos possuem problemas. O exame pode detectar anticorpos ineficazes e não conseguem identificar infecções antes do desenvolvimento da defesa do organismo, além de não serem capazes de determinar se uma infecção ainda está ativa.
(Fonte: Pexels/Chokniti Khongchum)
Com a possibilidade de desenvolvimento da covid-19 de forma assintomática e até a demora de pessoas infectadas de apresentarem sintomas, os testes se tornaram uma importante ferramenta para identificar a disseminação do coronavírus na sociedade.
Entretanto, todos os testes de triagem apresentam uma enorme dificuldade de interpretação dos dados. Mesmo em exames mais precisos, com testes moleculares tradicionais (PCR), quanto menos pessoas estão expostas a uma condição mais provável é a ocorrência de indivíduos com falso positivo. Com isso, as informações podem levar a uma falha de interpretação matemática.
Um resultado positivo no teste de triagem de outras doenças costuma ser confirmado com exames complementares, que permitem um diagnóstico mais seguro. No entanto, devido à emergência provocada pela pandemia de covid-19, esse acompanhamento tem sido raro, tanto pela falta de testes quanto pela prioridade de pacientes com casos mais graves.
O índice de erro pode ser ainda maior no caso de testes rápidos disponíveis em farmácias. Segundo o Ministério da Saúde, a metodologia imunocromatográfica, que permite um resultado em até 15 minutos, apresenta uma probabilidade de até 75% de erro. A conclusão foi feita após analisar um lote de 500 mil testes chineses doados ao Brasil.
Esses testes rápidos identificam a classe dos anticorpos IgM e IgG, que são as primeiras substâncias a serem produzidas pela resposta imunológica. No entanto, esses anticorpos podem ser detectados apenas a partir do sétimo dia do início dos sintomas.
O Ministério da Saúde recomenda o uso desses testes para testagem inicial de pacientes hospitalizados, com mais de sete dias de evolução dos sintomas, a profissionais de saúde e segurança pública para avaliação de retorno ao trabalho após infecções e para pessoas que tiveram contato prévio com o vírus.
Com a imprecisão dos resultados dos testes, muitas pessoas podem acreditar estar imunes a novas infecções provocadas pelo coronavírus. Esse pensamento é duplamente arriscado. Primeiro, porque existe uma grande chance da ocorrência de um falso positivo, ou ainda, a identificação de anticorpos que não são capazes de combater a covid-19.
Além disso, os cientistas ainda desconhecem o mecanismo de imunidade ao Sars-Cov-2. Não existem informações, inclusive, quanto à duração eventual dessa resposta imune. No caso de outros vírus, como o H1N1, a imunidade dura apenas um ano e é estimulada por meio de campanhas anuais de vacinação.
Quanto ao novo coronavírus, não existe ainda evidência científica de que a recuperação da covid-19 proporciona uma imunidade ao vírus. Na China e Coreia do Sul, foram registrados casos de possíveis “reinfecções” ou “reativações” do Sars-Cov-2, mostrando que os cuidados para evitar a contaminação devem ser seguido mesmo por pessoas curadas.
Os testes são importantes para desenvolver estratégias eficientes de combate à pandemia, mas seus dados devem ser interpretados de forma mais ampla em um contexto maior. E, mesmo quando o diagnóstico é confirmado, não é possível saber, apenas com o teste, se o vírus continua ativo no organismo.
Enquanto os testes ainda apresentam falhas, as vacinas contra a covid-19 avançam. A Organização Mundial de Saúde (OMS) espera que centenas milhões de doses de vacinas contra o coronavírus podem ser produzidos ainda este ano. Até o final de 2021, dois bilhões de doses devem ser produzidas.
Entretanto, enquanto não houver uma vacina eficaz contra a covid-19, a melhor estratégia para controlar a doença são as medidas preventivas de desinfecção e isolamento social – mesmo no caso de pessoas recuperadas da enfermidade.