Artes/cultura
03/11/2020 às 03:00•2 min de leitura
Um artigo publicado recentemente (22) na revista científica WIREs Water denunciou que a “guerra” mundial contra o plástico pode estar encobrindo ameaças maiores ao meio ambiente e à sociedade em escala global. Segundo os autores, sentimentos antiplástico têm sido explorados por políticos e outras indústrias interessadas em disfarçar a gravidade de um consumismo ambiental.
É lógico que a poluição causada por plástico é prejudicial: pode causar danos à mobilidade das espécies nos mares, pode ser digerida e destruir o aparelho digestivo de muitos animais, além de liberar produtos químicos prejudiciais na natureza.
Além disso, o material pode se fracionar em pequenos pedaços, eventualmente em microplásticos, menores que 5 mm, que podem se acumular na cadeia alimentar, e atingir lugares inesperados, desde mamadeiras de bebês até as partes mais remotas do planeta.
Portanto, embora exista uma hostilidade forte e justa em relação aos plásticos, os pesquisadores concluem que é o produto, e não o polímero que gera a questão dos resíduos plásticos.
Na verdade, alertam os autores do estudo, são as práticas contemporâneas de consumo e descarte, as grandes responsáveis pela proliferação de resíduos antropogênicos no ambiente, sejam eles plásticos ou não.
Dessa forma, uma ação ambiental eficaz destinada a minimizar o impacto de resíduos plásticos no meio ambiente deveria visar, primeiramente, mudanças nas práticas de consumo, políticas e design de produtos, além de ser orientada por princípios científicos e uma legislação objetiva.
“Plástico” e “poluição por plástico” são coisas diferentes. Poluição por plástico é um sintoma visível, grave e facilmente identificável de níveis insustentáveis de consumo exacerbado, design de produtos inadequado, gerenciamento de resíduos ineficaz e políticas hipócritas.
A denúncia, a pesquisa e o combate à poluição por plástico não deve ficar como a única ameaça ao meio ambiente. Há outras, gravíssimas: emissões de gases de efeito estufa, destruição da biodiversidade, exploração do trabalho, desmatamentos, queimadas, poluição química, entre outras.
O grande problema é que a visibilidade desses impactos só ocorre depois que o meio ambiente já está comprometido ou destruído.