Artes/cultura
18/05/2021 às 06:00•2 min de leitura
Não é que novos transtornos estejam surgindo, mas é a nossa condição social atual que está resultando na revelação de doenças antes não comentadas. Um exemplo, desde a última sexta-feira (14), é que estamos ouvindo falar muito sobre a agorafobia, doença que ganhou evidência por causa do suspense A Mulher na Janela, disponível na plataforma de streaming Netflix.
Anna Fox, personagem principal interpretada pela atriz Amy Adams, possui agorafobia. Da janela de sua mansão, em Nova York, ela observava a vida na cidade até que acabou testemunhando um crime que agravou o seu transtorno. Com base nesse fato, a trama se desenvolve e consegue prender o telespectador do início ao fim.
Analisando o filme, o PhD, neurocientista e neuropsicólogo Fabiano de Abreu Rodrigues traça um paralelo com a vida real. "Agorafobia é um tipo de ansiedade comum inclusive, mas que seu facilitador está na ocorrência de alguns episódios de ataques de pânico. Um indivíduo que apresenta tal distúrbio, tende a ficar dentro de casa, pois tem medo de sair já que em sua mentalidade é perigoso, mesmo não sendo", explicou Fabiano.
O filme, ainda segundo o PhD, apresenta de forma interessante o medo e a reclusão resultados de um trauma relacionado à perda. A reclusão, nesse sentido, se dá ao medo de estar em lugares ou situações que possam desencadear ataques de pânico ou constrangimentos.
Entre os sintomas do agorafobia, o neurocientista pontua os medos de:
"As situações são antecipadas no imaginário e são desencadeadas por um simples medo do que poderia acontecer ou não. A pessoa faz uma projeção de uma realidade que, na maioria das vezes, não vai acontecer", observa.
A agorafobia é uma doença crônica que pode durar anos ou por toda a vida. Entre 30% a 50% das pessoas que apresentam esse tipo de transtorno também sofrem de síndrome do pânico e a doença afeta mais mulheres que homens, sendo de 2 para 1, neste caso.
A maioria dos casos surgem antes dos 35 anos de idade e o diagnóstico é feito por um período de 6 meses ou mais. Durante esse tempo, o médico ou psicólogo acompanha o paciente, avaliando o nível do medo e da ansiedade, se não diminuir, inicia-se os tratamentos.
O processo é desafiador, pois é realizado por meio de terapia de exposição, no qual o indivíduo é auxiliado a pensar, aprender novas habilidades e se comportar de outra maneira diante de situações que originam o medo. Também faz parte a terapia cognitivo-comportamental podendo ser necessário o uso de antidepressivos inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRSs).
Sobre Fabiano de Abreu
Fabiano de Abreu Rodrigues é PhD, neurocientista, neuropsicólogo, mestre em psicanálise com pós graduação em antropologia, jornalista e especialização em nutrição clínica.