Ciência
04/10/2022 às 11:00•2 min de leitura
Durante uma boa parte do Império Romano, o sílfio foi utilizado para as mais variadas funções. Seu uso médico podia variar de aliviar dor de estômago até a remoção de verrugas. Para os cozinheiros, a planta era um tempero essencial e durante o reinado de Júlio César, as mudas de sílfio foram avaliadas pelo mesmo preço da prata.
A planta foi documentada pela primeira em 638 a.C., na costa da Cirenaica — no que hoje é a Líbia. Porém, no primeiro século d.C. o sílfio desapareceu, no que historiadores acreditam ter sido a primeira extinção registrada de qualquer espécie, planta ou animal. Ou, acreditavam.
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Há quase 1.300 km de onde o sílfio foi descoberto, Mahmut Miski acredita ter encontrado pela primeira vez, em mais de dois mil anos, o que pode ser indícios de que a planta não foi extinta. Enquanto fazia sua pesquisa de pós-doutorado com férulas — um grupo de plantas parentes da cenoura — em 1983, ele reparou em um grupo com características bastante peculiares.
Miski é professor de farmacognosia — o estudo de medicamentos derivados de fontes naturais — da Universidade de Istambul. Quando começou o trabalho com férula, ele não havia associado aquela planta que crescia perto de uma pequena vila da Capadócia com o sílfio. Ao analisar a espécie, ele concluiu se tratar de uma planta que havia sido coletada apenas uma vez em 1909.
Miski começou a estudar aquela férula e descobriu que ela poderia ser uma mina de ouro. Ele encontrou, entre os compostos da planta, alguns com propriedades de combate ao câncer, anticoncepcionais e anti-inflamatórios. Além disso, ele espera que outros compostos ainda possam ser descobertos.
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“É como se você combinasse meia dúzia de plantas medicinais importantes em uma única espécie”, comentou Miski sobre sua descoberta. Como o sílfio foi dado como extinto por dois milênios, é praticamente impossível ter certeza que esta é a mesma espécie. Durante todo esse período, naturalistas procuraram sem sucesso por um exemplar que correspondesse aos registros do passado.
Desde o início do século XIX, três espécies de férula são citadas como potenciais candidatas a ser o sílfio. Porém, nenhuma delas possui todas as características descritas. Agora, a descoberta de Miski parece ser a que mais se aproxima do sílfio. Sua única divergência com a planta original é o local onde ela cresce.
A férula leva cerca de dez anos para amadurecer. Isso explica tanto a dificuldade por encontrá-la, como a facilidade com que ela foi extinta. Seu uso abusivo e o desenvolvimento lento, combinaram na provável destruição da espécie. Miski tem cultivado a sua férula, mas o interesse comercial já tem se mostrado um perigo para ela novamente.
O professor estima que atualmente existam apenas 600 plantas individuais no mundo. Se são descendentes que resistiram ao tempo, ou uma espécie próxima, é difícil saber. Porém, Miski alerta que se o consumo for exagerado, podemos perder novamente uma das plantas mais importantes de todos os tempos.