Ciência
14/03/2023 às 11:15•2 min de leitura
Astrônomos do Observatório Nacional de Radioastronomia dos Estados Unidos detectaram um mistério surpreendente localizado a 1.300 anos-luz de distância. Na jovem estrela conhecida como V883 Orionis, foram identificadas moléculas de água em torno de um enorme disco de material, sugerindo potencial para ceder mais informações sobre as origens da composição atômica não apenas no planeta Terra, mas em locais longínquos do espaço sideral.
A descoberta ocorreu por meio do poderoso equipamento de observação ALMA e concluiu que a água gasosa circulante teria propriedades semelhantes à dos tipos encontrados em cometas próximos da Terra. Segundo John J. Tobin, o líder do projeto, a pesquisa aponta que a água distribuída pelos cometas seria derivada de nuvens de gás que se espalharam há 4,6 bilhões de anos. Assim, essa estimativa estaria localizada em um período anterior à própria formação do Sol.
Esse estudo também complementa teses anteriores sobre a jornada das nuvens de gás pelo espaço. Até a nova conclusão, os cientistas conheciam apenas como as substâncias se deslocavam para estrelas jovens e para planetas através dos cometas. Porém, a pesquisa do observatório revela como elas ocupavam corpos gelados no espaço a partir da expansão e da fusão dos discos de materiais em estrelas.
“O V883 Orionis é o elo perdido neste caso”, disse Tobin. “A composição da água no disco é muito semelhante à dos cometas do nosso próprio Sistema Solar. Esta é a confirmação da ideia de que a água nos sistemas planetários se formou bilhões de anos atrás, antes do Sol, no espaço interestelar, e foi herdada tanto pelos cometas quanto pela Terra, relativamente inalterada.”
Considerada atipicamente quente, a estrela V883 Orionis tinha uma proporção de água dispersa por todo o disco de material ao redor, porém com uma quantidade absoluta de ao menos 1.200 vezes se comparada à quantidade de água nos oceanos da Terra. Diferentemente do H2O tradicional, a molécula teria um átomo de hidrogênio substituído pelo isótopo pesado deutério, sendo formada em condições diferentes das que conhecemos.
(Fonte: Getty Images / Reprodução)
“Concluímos que os discos herdam diretamente a água da nuvem de formação de estrelas e essa água se incorpora a grandes corpos gelados, como cometas, sem alteração química significativa”, escreveram os astrônomos no estudo. No momento, a V883 Orionis passa por uma explosão de crescimento acelerado, com temperaturas superiores às das condições normais. Em breve, seus materiais periféricos devem se fundir com planetas em órbita.
Margot Leemker, Ph.D. estudante do Observatório de Leiden, na Holanda, comentou que essa estrela pode fornecer informações valiosas sobre a composição espacial no Sistema Solar antes da formação do próprio Sol. Essas descobertas sugerem que basicamente toda a água de um sistema planetário teria origem direta das nuvens de onde nasce sua estrela, ao se incorporar em corpos gelados como cometas e não sofrerem alterações químicas.
"Embora o mecanismo específico de entrega de água na Terra permaneça debatido (cometas e/ou asteroides), a [razão de isótopos de hidrogênio] encontrada em V883 é evidência de que as moléculas de água em nosso Sistema Solar se originaram no meio interestelar frio antes da formação do Sol. Portanto, observações de água espacialmente resolvidas em direção a discos de formação de planetas jovens são cruciais para ligar o reservatório de água e a formação de planetas terrestres", completa.
No futuro, os astrônomos pretendem expandir as pesquisas com o Extremely Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, a fim de ajudar a solidificar a relação entre o caminho da água nas nuvens e o nascimento dos sistemas solares.