Estilo de vida
02/08/2023 às 13:00•2 min de leitura
As correntes oceânicas são fluxos contínuos e direcionados de água, responsáveis não só por movimentar em grande escala a água, mas também por transportar calor, sal, nutrientes e até mesmo organismos ao longo de extensas regiões marítimas.
A Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) é uma parte essencial desse sistema de circulação global. Trata-se de um complexo processo de movimentação vertical e horizontal da água ao longo das latitudes, com trocas de água quente e fria entre regiões equatoriais e polares. Essa circulação tem um papel crucial na regulação do clima e das condições climáticas de várias regiões do mundo.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Uma pesquisa publicada em julho desse ano na revista Nature indicou que esse delicado sistema climático da Terra está em perigo extremo. Os pesquisadores estimam que a água derretida, oriunda de mudanças climáticas, possa interromper tanto as correntes oceânicas que elas deixem de funcionar corretamente até 2025.
Estima-se que há 95% de chance de a humanidade passar por esse perigoso período de transição em algum momento entre 2025 e 2095.
O que acontecerá com o planeta se houver o colapso das correntes oceânicas?
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Primeiro, vale pontuar que a AMOC envolve um sistema de afundamento de água fria nas regiões polares, conhecido como "formação de água profunda". Essa água fria e densa, originada em sua maioria no Oceano Ártico e na região da Islândia, afunda em direção às profundezas do oceano e flui de volta para as regiões tropicais, assim completando o ciclo da circulação meridional.
A AMOC é uma parte importante do Sistema de Circulação Termohalina, considerada uma espécie de "esteira rolante" que percorre os oceanos, transportando água quente e fria; desempenhando um papel fundamental na distribuição de calor e nutrientes pelo globo. Sendo assim, ela tem um impacto significativo no clima e nas condições climáticas em várias regiões do globo.
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Se esse sistema entra em colapso devido a um influxo repentino de água doce da Groenlândia, impedindo que a água salgada afunde como costuma fazer, as pessoas da Europa, por exemplo, experimentariam mudanças extremas no clima. A interrupção repentina no fluxo da Corrente do Golfo pode causar um retorno às condições semelhantes à era do gelo no lado norte da Terra.
Nada ironicamente, a última vez que a AMOC enfraqueceu foi durante o último período glacial, cerca de 12 mil anos atrás. O episódio ficou conhecido como Evento Heinrich, quando milhares de icebergs e sedimentos foram liberados no Oceano Atlântico Norte.
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A princípio, os pesquisadores acreditam que a Europa seja a mais afetada porque o continente deveria ser muito mais frio do que é, devido a sua latitude. Afinal, são apenas as correntes oceânicas que impedem o continente de ser envolvido por condições glaciais. O Reino Unido, por exemplo, é paralelo ao norte do Canadá, mas não fica tão frio quanto.
Segundo o cientista climático Peter Ditlevsen, em entrevista à Vice, é possível que tenhamos um clima na Europa Ocidental mais parecido com o clima do Alasca. Nos trópicos, no entanto, as temperaturas continuariam a subir.
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A alteração no ciclo AMOC significa também que todos os sistemas meteorológicos do mundo serão drasticamente afetados. Qualquer interrupção alterará os padrões de chuva em todo o planeta, mudando a maneira como as monções tropicais se comportam. Os pesquisadores que compuseram o estudo da Nature estimaram que uma queda potencial das chuvas pode levar à fome em massa em toda a África e Ásia, à medida que as colheitas começarem a falhar.
A América também seria atingida pelo desequilíbrio do AMOC, sobretudo os EUA. No oeste e na região central do país, é provável uma queda nas chuvas sazonais e uma alta probabilidade de seca. Já na Costa Leste, furacões violentos deverão se tornar mais comuns, interrompendo vidas e causando danos financeiros incalculáveis.