Ciência
27/10/2023 às 12:00•2 min de leitura
A história da humanidade é repleta de inovações e descobertas que moldaram nossa evolução ao longo dos milênios. Recentemente, arqueólogos descobriram uma evidência notável no Mediterrâneo Oriental, revelando a primeira tinta vermelha feita de plantas. A descoberta ocorreu por meio da análise de contas de conchas e outros artefatos antigos, revelando um uso inovador das plantas para a produção de pigmentos vermelhos.
As contas de conchas de 15 mil anos foram encontradas na caverna Kebara, no Monte Carmelo, em Israel. Durante a análise dos artefatos, os arqueólogos utilizaram técnicas avançadas de espectroscopia de alta tecnologia. Os resultados revelaram que o pigmento vermelho presente nas contas era originário das raízes das plantas Rubiaceae, também conhecidas como família da garança.
Planta da espécie Rubiaceae. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Os criadores dessa tinta vermelha pertenciam à cultura natufiana, um grupo de caçadores-coletores que habitavam a região do Levante, abrangendo territórios como Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os territórios palestinos. Os natufianos foram pioneiros em adotar estilos de vida mais sedentários e já demonstravam o uso de plantas para diversos fins, incluindo a produção de pigmentos.
Região do Levante. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
Embora o significado exato do uso da tinta vermelha na cultura natufiana tenha sido perdido ao longo do tempo, a descoberta sugere que havia uma crescente necessidade de expressão criativa à medida que as sociedades humanas evoluíam. O uso ornamental desses corantes orgânicos pode ter marcado uma transição na maneira como as culturas natufianas se expressavam artisticamente.
Resíduo do corante Rubiaceae na conta encontrada pelos pesquisadores. (Fonte: Davin et al., 2023/Reprodução)
Antes dessa descoberta, os primeiros exemplos conhecidos de pigmento vermelho de origem vegetal remontavam a cerca de 6 mil anos atrás. No entanto, os seres humanos têm uma longa história de utilização da cor vermelha em suas expressões artísticas, muitas vezes empregando pigmentos obtidos de minerais e plantas. A escolha da garança como fonte de pigmento vermelho pelos natufianos perpetuou-se ao longo da história, sendo encontrada em locais notáveis, como o túmulo do rei Tut e obras de artistas famosos, como Vincent van Gogh.
Túmulo do Rei Tut. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
A descoberta da primeira tinta vermelha feita de plantas por caçadores-coletores da cultura natufiana no Mediterrâneo Oriental há 15 mil anos é um testemunho da criatividade e da capacidade humana de inovação ao longo da história. Ela destaca a importância das tintas naturais na expressão artística e cultural das sociedades antigas. Além disso, essa descoberta nos lembra que, apesar das dificuldades e desafios que essas culturas enfrentaram, o passado era, de fato, mais colorido e diversificado do que muitas vezes imaginamos.