Artes/cultura
22/08/2024 às 18:00•3 min de leituraAtualizado em 22/08/2024 às 18:00
A União Astronômica Internacional (IAU) aprovou uma resolução para fortalecer o trabalho que faz na proteção do chamado "Céu Escuro e Silencioso", tanto no solo quanto no espaço. Tal decisão mostra o comprometimento da organização em proteger o céu, não apenas para os astrônomos, mas para toda a humanidade.
A resolução foi votada durante a 32ª Assembleia Geral da IAU, a primeira que ocorreu na África. De acordo com os especialistas, o céu noturno tem sido ameaçado por múltiplos fatores, sendo a poluição luminosa a mais comum entre todas no solo.
Em entrevista à IFLScience, o Diretor Executivo e Consultor Principal da organização Dark Sky Consulting, Dr. John Barentine, destacou que a poluição luminosa no solo é um grande problema para os seres humanos, uma vez que a transição mundial para a tecnologia LED tornou a luz à noite muito barata de consumir. "Na última década, o brilho do céu noturno tem aumentado em todo o mundo na ordem de cerca de 10 por cento ao ano, em média", disse.
Embora a transição para LED tenha sido benéfica em termos de consumo de energia, uma vez que as lâmpadas consomem muito menos do que as lâmpadas de filamento, isso também significa que agora é possível iluminar áreas a noite toda — incluindo lugares que não eram realmente iluminados.
Um exemplo comum disso são os holofotes em um estacionamento industrial, que permanecem acesos mesmo quando não há ninguém no local. A poluição luminosa impacta diretamente a astronomia e o nosso aproveitamento do céu noturno, mas também vem afetando o ciclo circadiano dos humanos e provocando mais casos de insônia. Além disso, animais, plantas e outros organismos vivos que dependem do céu e da escuridão para viver e prosperar também estão apresentando dificuldades.
Se a poluição luminosa é um real problema no solo, os satélites são os maiores vilões do céu noturno no espaço. Atualmente, existem mais satélites em órbita do que já existiu no passado, o que está mudando o céu dramaticamente. Em junho de 2024, havia 11.780 satélites em órbita e 6 mil deles eram da megaconstelação formada pela Starlink, da SpaceX.
A empresa de Elon Musk pretende ter até seis vezes mais satélites no espaço em um futuro próximo — e eles não são os únicos. Muitas organizações privadas e públicas estão planejando números semelhantes para os próximos anos. Os satélites não apenas trazem luz, mas enviam ondas de rádio para lugares da Terra com baixa frequência.
Com tudo, com tantos satélites orbitando o nosso planeta, o campo de visão que os astrônomos têm para estudar está se tornando cada vez menor.
Para garantir que o céu noturno permaneça intacto no futuro próximo, os membros da IAU esperam que uma série de medidas sejam tomadas em breve. Em primeiro lugar, seria necessário criar ferramentas para que o impacto da poluição luminosa diminuísse consideravelmente. Segundamente, é preciso contar com a colaboração das empresas privadas e uma nova regulamentação para limitar o uso dos satélites.
Quanto a poluição luminosa, medidas como design inteligente, temporizadores, sensores de movimento e cores diferentes são algumas das formas pelas quais poderíamos mitigá-la. Já no espaço, o desafio parece ser um pouco maior.
Todas as pessoas entrevistadas na Assembleia Geral da IAU enfatizaram que os empresários estão se engajando e ouvindo a preocupação a respeito da segurança do céu noturno. Inclusive, muitos teriam se mostrado dispostos a mudar o design dos satélites, desligar emissores em regiões específicas e muitas outras ações para colaborar. De qualquer forma, a esperança é que o comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) torne todo esse processo formalizado e desenvolva algum tipo de princípio de proteção do céu noturno nos próximos anos.