Estilo de vida
16/11/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 16/11/2024 às 15:00
A natureza está cheia de criaturas com adaptações incríveis – de pescoços longos a antenas esquisitas, e, no caso da mariposa Xanthopan praedicta, uma língua gigante! Em pleno século 19, Charles Darwin e Alfred Wallace, os pais da evolução, já previam a existência de uma mariposa com uma língua longa o suficiente para alcançar o néctar escondido nas profundezas das flores de Madagascar. Agora, mais de 150 anos depois, a teoria deles está mais do que confirmada.
Essa mariposa não só possui a língua mais longa entre os insetos, como também se tornou uma espécie reconhecida graças a estudos recentes. Com impressionantes 28,5 cm de comprimento, a probóscide (ou língua) da Xanthopan praedicta permite que ela se alimente de néctar em tubos florais praticamente inacessíveis para outros animais. O que Darwin e Wallace imaginavam lá atrás, em cartas e escritos, é hoje um fato comprovado — e bastante impressionante.
Tudo começou em 1862, quando Darwin recebeu uma orquídea de Madagascar, a Angraecum sesquipedale, famosa por seu tubo de néctar de quase 30 cm. Ele ficou fascinado e logo escreveu a um amigo: “Que inseto pode sugar isso?”. A única resposta possível era um animal com uma língua excepcionalmente longa, capaz de alcançar o fundo do tubo floral. Apenas cinco anos depois, Alfred Wallace também analisou a mesma planta e previu que haveria uma mariposa em Madagascar com uma língua do mesmo tamanho. Ele ainda sugeriu que naturalistas buscassem o inseto na ilha.
Décadas se passaram até que, no início de 1900, uma mariposa foi descoberta com as características esperadas. Batizada como Xanthopan morganii, ela foi classificada inicialmente como uma subespécie.
No entanto, novas pesquisas feitas em 2021 mostraram que a mariposa que Darwin e Wallace imaginaram era, na verdade, uma espécie à parte. Para homenageá-los, a mariposa ganhou o nome de Xanthopan praedicta — um tributo à previsão científica deles.
Com uma língua que chega a 28,5 cm, a Xanthopan praedicta detém o recorde no reino dos insetos. A medição foi um feito cuidadoso: a maior parte das línguas observadas veio de exemplares preservados em museus, mas um dos cientistas, Dr. David Lees, teve a chance de medir uma mariposa viva. “Imagine minha empolgação ao desdobrar a probóscide de um macho na floresta de Madagascar, percebendo que provavelmente era a maior já registrada”, comentou Lees.
Além do recorde, a língua da Xanthopan praedicta prova a coevolução entre plantas e insetos. Ao desenvolver uma língua tão longa, a mariposa se especializou em uma fonte de néctar difícil de acessar, o que garante sua sobrevivência e também ajuda a planta, já que a mariposa contribui para a polinização.
Essa descoberta recente finalmente dá à mariposa o destaque científico merecido, comprovando que a previsão feita por Darwin e Wallace foi tão certeira quanto fascinante.