Dá para ficar "chapado" consumindo sementes de papoula?

A papoula é uma planta conhecida há mais de 6 mil de anos, que foi cultivada e utilizada por diferentes civilizações por conta de suas propriedades medicinais. Mas, por meio do processamento químico de suas sementes, é possível gerar o ópio, um suco espesso extraído dos frutos imaturos de várias espécies dessa planta, e depois usado para produzir drogas como a heroína e a morfina.

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Isso acaba levando muita gente a ter a seguinte dúvida: se consumirmos as sementes de papoula em seu estado puro, será que vamos ficar chapados? A seguir, você confere a resposta.

Os efeitos das sementes de papoula

Uma coisa que já se sabe há algum tempo é isso: se você consumir uma certa quantidade de sementes de papoula e depois fizer um teste de drogas, ele pode acusar um falso positivo. E é por causa disso que alguns testes recomendam que as pessoas evitem comer alimentos com papoula antes de realizá-los, para não haver uma acusação errada de consumo de opiáceos.

A verdade sobre a dúvida é que existe sim uma possibilidade de ficar chapado com sementes de papoula — mas definitivamente isso não é recomendado nem seguro. A razão é relativamente simples: embora as sementes contenham pouco ou nenhum opiáceo, outras partes da planta, como as vagens das sementes, contêm ópio, que pode ser posteriormente refinado em substâncias como morfina, codeína e heroína.

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A cientista Eva Greenthal, que atua no Centro de Ciência no Interesse Público em Washington, explicou: "as pessoas consomem sementes de papoula com segurança há centenas de anos porque as sementes em si não contêm opiáceos naturalmente, mas quando elas se misturam com outras partes da planta durante a colheita, resíduos de opiáceos podem acabar nas sementes", declarou ao portal Live Science.

A maior parte das sementes de papoula que estão disponíveis no comércio é processada de uma forma que remove qualquer resíduo de ópio. Só que quando as sementes não são lavadas ou são mal processadas, elas podem conter opiáceos suficientes para intoxicar uma pessoa.

Mas é bem improvável que alguém consuma uma quantidade de sementes suficiente para ficar chapado. Um professor de física chamado Christopher S. Baird, da West Texas A&M University, estimou que seria preciso comer cerca de 59 quilos de sementes de papoula para ter um efeito perceptível. Esse cálculo se dá de acordo com a concentração de morfina e codeína nas sementes disponíveis comercialmente.

Por que não se deve fazer isso?

Ocorre que há outras formas de consumir a papoula. Usar as sementes para produzir um chá provoca um efeito mais concentrado, e muita gente acredita que o líquido é um bom remédio caseiro e natural para a dor.

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No entanto, Eva Greenthal alerta que consumir este chá é muito perigoso, e pode até causar a morte. Isso porque a quantidade de opiáceos em um saco de sementes de papoula não lavadas pode variar muito de lote para lote. Por isso, não se pode ter controle do quantidade consumida. Em um estudo de 2021, Greenthal e seus colegas descobriram que houve pelo menos 19 mortes e pelo menos 20 overdoses não fatais que podem ser atribuídas ao consumo do chá.

E mesmo que o chá de papoula não leve a uma overdose, ele pode provocar dependência. É o que diz Irving Haber, especialista em tratamento da dor no Terre Haute Regional Hospital. Em 2019, ele escreveu um artigo científico em que descreve o caso de um homem de 42 anos que começou a comprar sementes na internet fazer chá com elas. 

Aos poucos, o homem começou a precisar de mais e mais chá de semente de papoula, chegando a um ponto em que estava totalmente viciado e com prejuízos em sua vida. O tratamento do paciente envolveu buprenorfina e naloxona, uma combinação de medicamentos usada para tratar a abstinência de opioides.

Irving Haber hoje atua ao lado de Steve Hacala, pai de Stephen Hacala, um estudante universitário que morreu em 2016 após uma overdose de chá de semente de papoula. Ambos tentam aprovar uma petição ao governo dos Estados Unidos para proibir a venda de sementes de papoula contaminadas com opiáceos.