Ciência
05/05/2024 às 19:00•3 min de leituraAtualizado em 05/05/2024 às 19:00
O dia 6 de maio de 2024 marca o aniversário de 30 anos da abertura do túnel do Canal da Mancha. Ele se tornou a primeira ligação fixa da Grã-Bretanha ao continente europeu desde o desaparecimento da ponte de terra que ligava o Canal da Mancha ao continente, o que deve ter ocorrido há cerca de 450 mil anos.
A construção do túnel ferroviário submarino – que tem cerca de 50,46 quilômetros e conecta Folkestone, na Inglaterra, com Coquelles, na França, no Estreito de Dover – foi motivo de muito comemoração em toda a Europa, pois se acreditou que ele celebraria o início de novas possibilidades tanto ao comércio quanto para o turismo entre os países. Mas, 30 anos depois, o fato é que nem todos esses sonhos se concretizaram.
A construção do túnel do Canal da Mancha se iniciou em 1988, quando 13.000 trabalhadores começaram a escavar o espaço para dois túneis ferroviários submarinos, com o uso de 11 perfuradoras. Em 1989, o governo britânico faz a proposta para que a nova linha, que teria trens de alta velocidade, passe também por Peckham. Embora tenha ocorrido muito alvoroço, o plano foi rejeitado e os dois túneis deveriam passar por Stratford.
Um momento marcante dessa história compartilhada entre Reino Unido e França ocorreu em 1990, quando um inglês e um francês, os mineiros Graham Fagg e Phillippe Cozette, se encontraram bem na metade do túnel e trocaram bandeiras de seus países, realizando um ato simbólico.
Por fim, em 6 de maio de 1994, a Rainha Elizabeth II e o presidente francês François Mitterrand embarcaram juntos em um Rolls-Royce em Calais, de onde seguiram a bordo do Le Shuttle, até Folkestone, inaugurando oficialmente o túnel.
Havia muita expectativa sobre as relações que seriam consolidadas entre o Reino Unido e os seus vizinhos europeus, como a expectativa que, com os novos serviços ferroviários administrados pela Eurostar, cairia muito a quantidade de voos entre Londres, Bruxelas e Paris. Além disso, esperava-se que os caminhões e ferry boats praticamente deixassem de existir e que toneladas de mercadorias passassem a ser transportadas por trem.
Boa parte desses planos não se concretizou. Com a privatização ferroviária e a inauguração de companhias aéreas de baixo custo, os trens Nightstar, por exemplo, acabaram sendo vendidos para o Canadá. Já o número de comboios de mercadorias transportados pelo túnel não aumentou tanto quanto se esperava, sobretudo por questões de segurança.
O número de passageiros também não chegou ao que se estimava. A expectativa é que se tivesse cerca de 20 milhões de passageiros circulando no Eurotúnel. Mas, até a pandemia de Covid, esse número não havia chegado pela metade. Além disso, as balsas e os voos sobreviveram.
Analistas consideram que essas falhas se ligam à própria história do túnel e como ela se desenrolou. A primeira-ministra Margaret Thatcher apoiava a ideia de que o Eurotúnel impulsionaria um novo mercado, mas que isso deveria ser feito pelo setor privado, e não público. Por consequência, isso acabou elevando o valor das passagens – o Eurostar, por exemplo, cobra cerca de £ 14 por passageiro em cada sentido.
Outra questão é a legislação de segurança na construção do túnel, que foi cara demais, por conta da existência de um terceiro túnel estabelecido entre os dois principais, mas que só é usado em casos de emergência. Além disso, o Eurotúnel passou a também ser visto como alvo para terroristas, intensificando a necessidade de verificações de segurança.
Por fim, há quem considere que o Brexit como o maior sinal do fracasso do túnel, já que a visão é que ele consolidaria e aproximaria os laços entre a Grã-Bretanha e a Europa. Isso significaria, por exemplo, grupos maiores de passageiros que viajariam diariamente de um país para o outro. O Brexit, contudo, pareceu enterrar de vez esse sonho, já que as burocracias causadas por ele afastaram ainda mais o Reino Unido de outras nações.
Entretanto, há ainda esperanças de crescimento para o Eurotúnel nos próximos anos. Atualmente, os ônibus LeShuttle transportam em média 10 milhões de passageiros por ano e o Eurostar transporta mais de 11 milhões de pessoas.
A empresa Getlink, empresa pública europeia com sede em Paris que administra e opera a infraestrutura do Túnel da Mancha, nutre a expectativa de que o Eurotúnel acelere a mobilidade de baixo carbono entre o Reino Unido e a Europa, com a ampliação de novos destinos nos próximos 10 anos. Agora, é esperar para ver e que a Europa fique ainda mais unificada.