Falando com plantas: ciência está cada vez mais perto de "entender" os vegetais

20/09/2024 às 15:002 min de leituraAtualizado em 20/09/2024 às 15:00

Quando pensamos em comunicação, logo vem à mente a linguagem verbal — essencial para o sucesso da espécie humana. No entanto, a comunicação não é uma exclusividade dos seres humanos e dos animais. As plantas, que muitas vezes são vistas como passivas, também possuem suas próprias formas de interagir umas com as outras. E a ciência tem mostrado que esses sistemas de comunicação vegetal são mais complexos do que imaginávamos.

Apesar de não emitirem sons ou palavras, as plantas utilizam redes sensíveis de comunicação para transmitir informações. Se pensarmos em como seria o caos se as nossas redes de comunicação, como a internet, falhassem, podemos ter uma ideia da importância dessa interação entre as plantas. Assim como os humanos desenvolveram sistemas não-verbais para se comunicar, como a leitura labial e a linguagem de sinais, as plantas criaram suas próprias formas de comunicação química e elétrica.

O que acontece na vizinhança vegetal?

Assim como humanos, plantas dependem da comunicação entre si para sobreviver. (Fonte: Getty Images)
Assim como humanos, plantas dependem da comunicação entre si para sobreviver. (Fonte: Getty Images)

Quem nunca sentiu o cheiro de grama recém-cortada? Esse aroma familiar não é apenas uma fragrância agradável, mas uma forma de comunicação. A grama libera substâncias químicas, chamadas voláteis, que alertam as plantas vizinhas de que há um "predador" — nesse caso, o cortador de grama. Esse mecanismo químico induz defesas nas outras plantas, ajudando-as a se preparar para o ataque. Porém, a comunicação vegetal não se resume aos voláteis.

Cientistas descobriram que as plantas são extremamente bem conectadas e eficientes em enviar mensagens umas para as outras por meio de suas raízes e de sinais elétricos. Um exemplo dessa comunicação sofisticada é a "vizinhança planta fofoqueira", que funciona por meio de redes subterrâneas de fungos e micróbios do solo. Essa conexão permite que as plantas compartilhem informações essenciais sobre o ambiente ao seu redor, funcionando quase como um sistema de "vigilância" entre elas.

Com o avanço da eletrofisiologia — o estudo dos sinais elétricos entre plantas — e da inteligência artificial, os cientistas estão cada vez mais próximos de traduzir esse "diálogo" vegetal. Já é possível monitorar os sinais elétricos das plantas para detectar necessidades de água ou deficiências nutricionais em estufas modernas, além de influenciar o comportamento delas, como fazer com que uma planta carnívora abra ou feche suas folhas.

A internet das árvores

Interrupção da
Interrupção da "conexão" entre as plantas pode atrapalhar a qualidade de vida das espécies. (Fonte: Getty Images)

Grande parte da comunicação entre as plantas ocorre debaixo do solo, por meio de uma extensa rede de fungos conhecida como "wood wide web". Essa rede conecta árvores e plantas, permitindo que compartilhem recursos, como água, nutrientes e informações. Assim como a internet nos permite trocar ideias e informações, essa rede subterrânea ajuda as plantas a se prepararem para mudanças no ambiente, funcionando como um dos sistemas de comunicação mais antigos do planeta.

No entanto, a perturbação desse sistema — causada por desmatamento, uso de produtos químicos ou mudanças climáticas — pode prejudicar a conectividade das plantas, tornando-as menos informadas e, portanto, mais vulneráveis. Embora ainda haja muito a ser descoberto sobre o impacto dessas interrupções, já se sabe que essa desconexão pode alterar o comportamento das plantas, afetando sua capacidade de se defender e sobreviver.

Assim como ensinamos as crianças a ler para poderem compreender o mundo, é igualmente importante preservar as redes de comunicação das plantas. Afinal, nossa sobrevivência depende delas.

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