Estilo de vida
03/11/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 03/11/2024 às 18:00
Quando o paleoantropólogo Donald Johanson e seu colega Tom Gray saíram para explorar um sítio na região de Afar, na Etiópia, eles não tinham ideia do que encontrariam. No final daquele dia de 24 de novembro de 1974, entre fragmentos e ossos dispersos, Johanson percebeu algo incomum: um pedaço de cotovelo que se destacou pelo seu formato.
Rapidamente, ele e sua equipe encontraram outras partes de um esqueleto, como pélvis, fêmur e partes de um crânio. A descoberta era tão incrível que transformou a noite da equipe em celebração, ao som de “Lucy in the Sky With Diamonds” dos Beatles — um nome que acabaria se tornando o apelido do fóssil.
Lucy, formalmente classificada como Australopithecus afarensis, tem aproximadamente 3,2 milhões de anos e representa cerca de 40% de um esqueleto completo — um achado raríssimo para fósseis de hominídeos. Isso já foi um marco para a ciência, mas foi sua combinação de características humanas e simiescas que realmente mudou tudo o que se sabia até então sobre a evolução humana.
O fóssil possuía um cérebro pequeno, similar ao de um chimpanzé, mas seu formato pélvico e a estrutura das pernas indicavam que ela era bípede, ou seja, andava ereto. Essa evidência desafiou teorias anteriores, que defendiam que o bipedalismo havia surgido depois do aumento do tamanho cerebral nos hominídeos.
Antes de Lucy, os fósseis mais antigos de hominídeos conhecidos eram da espécie Australopithecus africanus, que viveu cerca de 2,5 milhões de anos atrás e havia sido encontrado na África do Sul. Na década de 1970, os cientistas ainda estavam montando um quebra-cabeça evolutivo com poucas peças, e acreditavam que os primeiros humanos só surgiram bem depois dessa época.
Nosso querido fóssil ampliou essa linha do tempo em mais de um milhão de anos e forneceu um novo panorama da evolução humana. Ela se tornou um “elo” crucial, ao mesmo tempo em que levantou novas perguntas sobre como e por que nossos ancestrais começaram a caminhar sobre duas pernas.
A descoberta de Lucy levou a uma série de novas escavações e ao surgimento de uma quantidade crescente de fósseis de outras espécies antigas de hominídeos. Esse movimento impulsionou a paleoantropologia e revelou que, em vez de uma única linha evolutiva, havia várias espécies de hominídeos convivendo ao mesmo tempo.
Outras descobertas, como a do Ardipithecus ramidus, que viveu há 4,4 milhões de anos, mostraram que o bipedalismo pode ser ainda mais antigo que Lucy e não foi necessariamente impulsionado pelo uso de ferramentas, como se pensava antes.
Lucy continua central na busca por nossas origens, sendo o Australopithecus afarensis apontado como provável ancestral do gênero Homo. A espécie viveu por quase um milhão de anos em ambientes diversos na África, o que pode ter incentivado o bipedalismo. Lucy deixou um legado que transcende a ciência, tornando-se um símbolo mundial de nossa curiosidade sobre o passado.
O fato é que Lucy não foi apenas um marco científico; sua descoberta deu visibilidade à paleoantropologia e inspirou novas gerações a investigar a história evolutiva. Ela impulsionou uma rede global de cientistas dedicados ao passado humano, permanecendo um pilar essencial no estudo da evolução, mesmo com os avanços e desafios das descobertas recentes.