Artes/cultura
23/08/2024 às 10:00•2 min de leituraAtualizado em 04/09/2024 às 14:45
Os animais da ordem dos proboscídeos (animais com tromba), como os mamutes-lanudos, não foram provocados pelo fim da última era do gelo, como aprendemos na escola (e eventualmente no cinema), mas sim pela extinção causada pelo surgimento dos humanos modernos. Essa é a conclusão de um novo estudo publicado recentemente na revista Science Advances.
Liderada pelo ecologista Torsten Hauffe, da Universidade de Friburgo na Suíça, a pesquisa utiliza metodologias de inteligência artificial explicável (xAI) para expandir o registro fóssil dos proboscídeos, incluindo aspectos como paleoclima, ecomorfologia, biogeografia e sobreposição espaço-temporal com os humanos.
Mesmo com a descoberta recente de ossos de mamute com cicatrizes de lâminas e sinais de abate, o impacto dessa possível predação intensa não adquiriu um consenso entre os especialistas, apesar da real aniquilação desses animais. De uma população abundante há cerca de 20 mil anos, eles desapareceram da face da Terra por volta de 10 mil anos atrás.
No teste das hipóteses, os autores trabalharam com um modelo de nascimento-morte, usando uma rede neural que aprende padrões e estruturas nos dados. Para isso funcionar, eles treinaram um algoritmo que vasculhou diversos registros fósseis, registrando a redução nas espécies proboscídeas, e comparando essas reduções com múltiplos fatores ambientais para identificar as causas.
Foram registrados ao todo dados de 2.118 fósseis em 175 espécies de proboscídeos que viveram entre 35 milhões e 10 mil anos atrás, incluindo mudanças no tamanho das presas. Foram também analisados 17 possíveis fatores capazes de impactar as populações desses animais, tanto climáticos quanto ambientais, e, logicamente a chegada dos primeiros hominídeos há cerca de 1,8 milhão de anos, e do Homo sapiens há 129 mil anos.
O modelo apurou que, embora a diversidade entre os proboscídeos fosse relativamente baixa, algumas poucas adaptações surgiram, à medida que novas populações evoluíram para se adaptar a novos ambientes e dietas. Uma especiação (evolução para se tornar uma nova espécie) ocorreu no final do período Neógeno, com alterações nas presas dos animais.
Mas esse cenário de equilíbrio logo seria perturbado. "Nosso modelo nos permitiu destacar o efeito dos humanos depois de contabilizar todos os outros fatores, sugerindo que o aumento estimado de 5 a 17 vezes na taxa atribuída aos humanos primitivos e modernos não é influenciado por outros fatores considerados aqui", concluem os autores.
Embora o maior impacto na biodiversidade tenha ocorrido nos últimos 120 mil anos, época compatível com a chegada dos primeiros Homo sapiens, a linhagem humana anterior a esse período (composta por espécies de hominídeos) também influenciou de forma mais fraca, porém significativa, o brutal efeito antropogênico na biodiversidade do planeta.