O que é um "domo de calor" e como ele afeta o Brasil e o mundo

Se você estava achando que o calor do último verão foi insuportável, prepare-se para conhecer o fenômeno por trás dessa sensação de estar vivendo dentro de um forno. O Brasil enfrentou uma onda de calor extrema no final do verão de 2024, com temperaturas até 10 °C acima da média em algumas regiões. Esse evento foi causado por um domo de calor (ou cúpula de calor), que prendeu o ar quente e levou os termômetros a marcar recordes históricos.

O que é um domo de calor?

Uma forma simples de entender é pensar numa panela no fogão: quando você coloca a tampa, o calor não tem para onde escapar e fica concentrado ali dentro, certo? Um domo de calor funciona de maneira semelhante. 

Trata-se de uma área de alta pressão que se estaciona sobre uma região, impedindo que o ar quente se dissipe e bloqueando a entrada de ar frio. Essa alta pressão força o ar quente a descer, e ao descer, ele se aquece ainda mais devido à compressão. O resultado é um calor extremo que pode durar dias ou até semanas.

Esse fenômeno não é uma exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 57 milhões de pessoas enfrentaram alertas de calor extremo em junho de 2024, com temperaturas que ultrapassaram os 37,8 °C em algumas áreas. 

Nos últimos anos, os domos de calor têm se tornado mais frequentes e intensos devido às mudanças climáticas. O aquecimento global está fazendo com que esses eventos sejam mais duradouros e que as temperaturas registradas durante eles sejam ainda mais altas.

Brasil mais quente

Voltando ao Brasil, a bolha de calor que afetou o país se originou no norte da Argentina e no Paraguai, e se espalhou para diversos estados brasileiros. A combinação de alta pressão, pouca umidade no solo e céu claro fez com que o solo aquecesse ainda mais, agravando a situação. 

Esse aquecimento excessivo do solo e do ar contribui para um ciclo de feedback positivo: com menos umidade, há menos evaporação, e com menos evaporação, o ar e o solo continuam a esquentar cada vez mais.

Além do desconforto e dos riscos à saúde, como desidratação e insolação, as ondas de calor causadas por domos de calor também têm impactos econômicos e ambientais. 

A agricultura sofre com a falta de chuva e o solo seco, prejudicando as colheitas e elevando os preços dos alimentos. A demanda por energia elétrica aumenta, pois as pessoas recorrem mais ao ar-condicionado, o que pode sobrecarregar o sistema de energia e levar a apagões.

O perigo continuará

Estudos indicam que, com o aquecimento global, eventos climáticos extremos como os domos de calor serão cada vez mais comuns. As temperaturas globais já estão quase 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, o que significa que o planeta está mais quente do que nunca. E isso afeta diretamente a intensidade e a frequência dos domos de calor. 

Por exemplo, o domo de calor que afetou o Canadá e o noroeste dos EUA em 2021, com temperaturas próximas de 50 °C, teria sido "virtualmente impossível" sem as mudanças climáticas causadas pelo homem.

Para o Brasil, isso significa que devemos nos preparar para verões cada vez mais quentes e ondas de calor mais intensas e prolongadas. Adaptações serão necessárias, tanto em termos de infraestrutura quanto de políticas públicas, para minimizar os impactos negativos desse fenômeno. Afinal, viver dentro de um "forno" não é nada agradável, e todos precisamos encontrar maneiras de nos refrescar e proteger nesse novo normal climático.