Artes/cultura
05/06/2024 às 16:00•2 min de leituraAtualizado em 05/06/2024 às 16:00
Se você costuma se sentir constrangido/constrangida de ter que recorrer ao Tinder para colocar sua vida amorosa em dia, imagine um macho que precisa utilizar um exército de drones e recursos de IA para encontrar uma parceira. Esse é o caso da Encephalartos woodii, uma das plantas mais antigas a sobreviver na Terra.
Predecessoras dos dinossauros, estas plantas estão tecnicamente extintas da natureza, pois o único exemplar macho conhecido, resgatado da floresta de Ngoya, na África do Sul, em 1895, teve que ser levado para um viveiro botânico, uma vez que seu habitat foi irremediavelmente destruído pela ação humana.
Com isso, todos os exemplares existentes no mundo hoje são clones daquela planta original e igualmente machos. Isso torna a reprodução sexuada natural absolutamente inviável pela ausência de fêmeas conhecidas na natureza, o que impede a polinização cruzada. Recentemente, um grupo de cientistas iniciou um esforço para encontrar uma parceira para o E. woodii macho.
Na expectativa de detectar um espécime feminino de E. woodii em Ngoya, onde a planta foi endêmica um dia, os pesquisadores estão vasculhando, pela primeira vez, toda a extensão do que restou da floresta. A varredura está sendo realizada por drones, e como há muitas fotos para analisar, os cientistas estão utilizando a tecnologia de inteligência artificial (IA).
Cada drone utiliza uma câmera multiespectral que, além da luz visível, capta imagens em mais cinco comprimentos de onda diferentes, o que permite distinguir plantas específicas e suas características. Como o projeto é recente, faltam mais de 4 mil hectares a serem fotografados, sendo que, dos 79 hectares capturados, resultaram 15,8 mil imagens.
Em um comunicado, a líder do projeto, Laura Cinti, pesquisadora da Universidade de Southampton, no Reino Unido, explica que, "com a IA, estamos usando um algoritmo de reconhecimento de imagem para reconhecer as plantas pela forma". Após geradas, as imagens de plantas são colocadas em diferentes ambientes ecológicos, para treinar o modelo de IA.
Embora menos de 2% da floresta tenham sido pesquisados sem sucesso até agora, os pesquisadores já têm um plano B para o caso de nenhuma fêmea ser encontrada: mudar o sexo de uma planta macho.
Essa "redesignação sexual" já ocorreu de forma natural em outras cicadáceas, segundo Cinti, devido a mudanças repentinas de temperatura, o que poderia teoricamente ser reproduzido em laboratório.
Dizendo-se muito inspirada pela história da E. woodii, a especialista em bioarte e comportamento das plantas diz que o caso "reflete uma história clássica de amor não correspondido".