
Ciência
29/07/2024 às 13:00•2 min de leituraAtualizado em 29/07/2024 às 13:00
Com seus 13 mil quilômetros quadrados, o lago Maracaibo, no noroeste da Venezuela, é uma das maiores e mais antigas massas de água da América do Sul. Uma das principais regiões petrolíferas do planeta, o lago, que é tecnicamente uma baía, tornou-se em 2016 “a capital mundial dos raios da Terra”.
O título não é por acaso: dados do Sensor de Imagens de Raios, instalado no satélite da Missão de Medição de Precipitação Tropical, da NASA e da agência japonesa JAXA, confirmaram que o Maracaibo recebe em média 233 relâmpagos por quilômetro quadrado por ano. O evento é conhecido como "relâmpago do Catatumbo" porque ocorre no encontro da foz desse rio com o lago.
O fenômeno atmosférico, que ocorre apenas sobre essa área relativamente pequena do país andino, se caracteriza por uma sucessão de tempestades elétricas quase contínuas, que ocorrem diariamente, até 260 noites por ano. Ele ocorre exatamente sobre o pântano formado no local onde o rio Catatumbo deságua, durante 10 horas por dia, a uma frequência de 280 raios por hora.
O relâmpago do Catatumbo começa como qualquer raio, dentro das nuvens, quando pequenas partículas e gotículas de água são elevadas pelas correntes ascendentes, enquanto as partículas maiores de gelo caem devido à gravidade.
Durante a colisão dessas partículas, ocorre a transferência de cargas elétricas: as menores e ascendentes adquirem cargas positivas, enquanto as maiores e descendentes, negativas.
Essa separação de cargas dentro da nuvem tempestuosa cria uma diferença de potencial elétrico (voltagem) que pode resultar em descargas elétricas, os raios, quando essa tensão fica suficientemente grande para quebrar a resistência do ar.
A própria topografia do lago pode explicar o motivo pelo qual tantos raios se formam sobre o Maracaibo. A região é cercada de montanhas que cercam todo o lago, exceto ao norte. Esse "funil" natural canaliza os ventos úmidos e quentes do mar do Caribe que, ao entrar em contato com o ar frio que desce das montanhas, formam as perigosas nuvens cumulonimbus.
Nesse cenário sombrio, basta que gotículas de ar úmido toquem os cristais de gelo do ar frio para desencadear o show de relâmpagos que, segundo os habitantes da região, são brilhantes o bastante para se ler um jornal à noite.
Além de visualmente impactante, o relâmpago do Catatumbo possui também uma importante consequência ecológica e científica. Isso porque os raios geram ozônio na atmosfera terrestre por meio de processos que envolvem a quebra e recombinação de moléculas de oxigênio. Não por acaso essa região é responsável por quase 10% do ozônio atmosférico da Terra.