Artes/cultura
04/07/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 11/07/2024 às 11:01
A ciência acaba de dar um passo gigante na reconstrução do nosso passado humano: o rosto do Homo sapiens mais antigo já encontrado foi revelado pela primeira vez. Cientistas, liderados pelo brasileiro especialista em gráficos Cícero Moraes, utilizaram técnicas avançadas de digitalização 3D para trazer à vida as feições deste ancestral distante.
Tudo começou com os restos mortais encontrados em Jebel Irhoud, no Marrocos, um sítio arqueológico que tem nos surpreendido desde a década de 1960. Mas foi só em 2017 que os cientistas realmente perceberam a idade e a importância desses fósseis: cerca de 315 mil anos!
Cícero Moraes, utilizando técnicas avançadas de tomografia e deformação anatômica, conseguiu reconstruir o crânio e, posteriormente, o rosto desse homem antigo. Mas não pense que foi uma tarefa simples.
Primeiro, o crânio foi digitalizado em 3D com a ajuda dos dados fornecidos pelo Instituto Max Planck. Em seguida, Cícero começou o trabalho minucioso de aproximação facial forense, que é quando se faz uma projeção da aparência de uma pessoa com base no crânio. Essa técnica pode ser utilizada para identificar uma pessoa quando não se tem informação suficiente sobre uma determinada ossada.
Para isso, ele utilizou um protótipo de crânio de um doador moderno, um homem adulto com baixo índice de massa corporal, ajustando os dados para que se encaixassem no crânio do fóssil de Jebel Irhoud. Assim, foi possível prever a espessura dos tecidos moles, a projeção do nariz e demais estruturas particulares do rosto, ou seja, os principais pontos que caracterizam a feição humana.
Além disso, foram utilizados dados estatísticos de rostos de diversos homens modernos, o que confere mais informações para fazer o ajuste fino da face recriada, tornando-o o mais próximo do que deveria ser o rosto do ancestral.
O resultado da reconstrução, de acordo com Moraes, foi um rosto descrito como "forte e calmo", um homem que parece estar pronto para enfrentar qualquer desafio da Idade da Pedra.
Apesar de não ser possível saber qual era o gênero do fóssil, Cicero escolheu recriar como homem devido aos vários aspectos de estrutura óssea que indicavam pertencer a um ser masculino.
O crânio em si é uma peça fascinante. Composto por vários fósseis, foi recriado em um todo coerente, com uma aparência moderna nos dentes e no rosto, mas ainda mantendo uma caixa craniana mais arcaica. Isso nos dá pistas valiosas sobre como nossos ancestrais evoluíram e se espalharam pelo continente africano muito antes do que se pensava.
E por que isso é tão importante? O ponto-chave é que essas descobertas mudaram completamente nossa compreensão sobre a história do Homo sapiens. Até recentemente, acreditava-se que nossa espécie havia surgido no leste da África há cerca de 200 mil anos.
Contudo, os restos de Jebel Irhoud empurraram essa linha do tempo para trás em 100 mil anos, mostrando que nossos ancestrais já estavam espalhados por toda a África muito antes do que imaginávamos.
Mas o que mais intriga nessa história é a possibilidade de que, mesmo com todas as tecnologias avançadas, ainda estamos apenas começando a desvendar os segredos de nossos ancestrais. Cada descoberta, cada nova técnica de reconstrução, nos aproxima um pouco mais de entender quem somos e de onde viemos.