Ciência
06/02/2014 às 06:18•2 min de leitura
Em uma das regiões mais isoladas e distantes do mundo, no alto das montanhas de Papua-Nova Guiné, e a mais de dez horas de canoa de Wewak, a cidade mais próxima, vive a tribo Kaningara, um dos povos com tradições e rituais mais primitivos (e cruéis) já vistos.
Conhecidos também como homens-crocodilos, os membros de Kaningara cultivam uma forma de crença espiritual e simbólica bastante peculiar, venerando o animal crocodilo como um Deus criador.
A tribo vive próximo ao rio Sepik, de mais de 1.100 km de extensão, berço de crocodilos e também de inundações. Morando em ocas no topo de montanhas, esse povo sobrevive de um sistema de agricultura de subsistência e realiza periodicamente um ritual de transformação de seus jovens em homens adultos, que estarão aptos a tomar decisões e proteger a tribo através de um dolorido processo de flagelação.
Esse ritual começa com o isolamento dos rapazes em uma oca central da tribo, chamada de Casa dos Espíritos, por cerca de dois meses. Sem contato com familiares nesse período, eles se preparam para o estágio final apenas com a visita dos homens feitos de Kaningara, os únicos que podem entrar nessa oca especial.
Fonte da imagem: Reprodução/Capitanbado
Por semanas, os jovens recebem ensinamentos dos mais velhos e precisam aprender sobre a crença de seus ancestrais e sobre a origem das coisas. De acordo com a cultura Kaningara, é o conhecimento que dá poder aos homens, que difere meninos de adultos.
Nos últimos dias antes da etapa final, mulheres e crianças cantam e dançam do lado de fora da oca central, e um crocodilo é capturado vivo e carregado para acompanhar o derradeiro ritual. O pajé é quem decide o momento certo para iniciar os cortes em seus rapazes.
O momento final da transição dos garotos em adultos ocorre com uma série de marcas que vão modificar para sempre seus corpos. Cortes profundos reproduzem as escamas de um crocodilo, e o processo simboliza não apenas a união espiritual e animal do homem com seu Deus, como também extrai a dor e a ligação dos meninos com o sangue materno.
No ritual, cortadores utilizam lâminas para fazer múltiplas intervenções nos corpos dos garotos. No peito, ao redor dos mamilos, são desenhados os olhos do crocodilo. Na região do abdômen são feitas as narinas do animal, e nas costas, as pernas traseiras e o rabo do réptil.
Fonte da imagem: Reprodução/Capitanbado
O processo dura cerca de duas horas. Nesse período, normalmente um tio materno acompanha o sacrifício para limpar o sangue derramado pelo jovem. Simbolicamente, o sangue que escorre da pele é o do pós-parto da mãe, o qual os rapazes precisam liberar para separá-los do mundo das mulheres. Além disso, como é um tio quem limpa esse sangue, o líquido volta para a linhagem da família.
Com o fim do agonizante processo, o grupo retorna para a casa dos espíritos para ser observado pela tribo – ainda com muita dor dos ferimentos feitos na pele. Agora homens, eles passam semanas tratando os cortes com óleo de palmeira (aplicados com o auxílio de uma pena) para parar o sangramento.
Finalmente, para conseguir a saliência de suas cicatrizes e deixar o corpo mais parecido com o de um crocodilo, o grupo de novos homens toma banho em um lago barrento, com o objetivo de infeccionar as feridas. Os cortes levam semanas até fecharem completamente, mas depois desse ritual, conforme a crença dos Kaningaras, os homens podem aguentar qualquer coisa que aparecer pela frente.