Estilo de vida
27/02/2022 às 11:00•2 min de leitura
Foi em meados de 1942, no apogeu da Segunda Guerra Mundial, que o governo dos Estados Unidos decidiu adquirir de maneira secreta mais de 60 mil acres no leste do Tennessee como parte do infame e notório Projeto Manhattan, responsável por fabricar e detonar as bombas Little Boy e Fat Man sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Os EUA precisavam de mais terras para poder construir suas imensas instalações e desenvolver materiais nucleares para novas armas, de um modo que não atraísse a atenção de espiões ou inimigos. Assim nasceu Oak Ridge.
(Fonte: Love These Pics/Reprodução)
Desde meados do século XIX, Oak Ridge sempre foi uma cidade voltada para comunidades agrícolas e, até momentos antes do governo iniciar o experimento de torná-la um centro de experimentos, possuía uma população de quase 3 mil habitantes.
Por ser remota, a cidade foi considerada o local perfeito, então o Exército a construiu praticamente do zero para o novo fluxo de funcionários/residentes, aumentando para 75 mil habitantes em apenas 3 anos.
(Fonte: NTHP/Reprodução)
A cidade parecia como qualquer outra cidade pitoresca do sul dos EUA, com centros de natação, bibliotecas, mercearias, salões de dança, parques e cinemas. O que a diferia eram os soldados armados nas torres de guarda espalhadas pela cidade, a cerca gigante cobrindo todo o perímetro, e o fato de que absolutamente ninguém sabia exatamente que tipo de trabalho oferecia ao governo.
Cada trabalhador exercia uma atividade diferente, pela qual era remunerado normalmente, e somente os cientistas do Projeto Manhattan sabiam como essas tarefas se relacionavam. Por exemplo, uma pessoa era contratada para permanecer na lavanderia, passar um dispositivo sobre cada peça de roupa e marcar o quanto ele apitava, sem se dar conta de que estava verificando a radiação com um contador Geiger.
(Fonte: TimeToast/Reprodução)
O governo oferecia uma casa confortável, um emprego estável e muito bem remunerado para que essas pessoas tivessem uma vida, aparentemente, normal, então quem eram elas para questionarem tudo isso?
A quarentena que não os permitia sair da cidade em hipótese alguma era monitorada 24 horas. Privacidade era uma palavra não muito conhecida em Oak Ridge, onde todas as correspondências eram abertas, lidas e inspecionadas por agentes de segurança do governo.
Os soldados tentavam intervir diretamente na vida dos cidadãos o mínimo o possível, mas desconfiavam de tudo, tanto que mais de 7 pessoas andando juntas pela rua era visto como atividade suspeita. Os moradores evitavam esse tipo de contato porque sabiam que não era bom, visto que testemunharam a expulsão de alguns moradores da cidade por condutas consideradas "hostis".
(Fonte: Chick History/Reprodução)
Além disso, a pessoa corria o risco de ser sentenciada a 10 anos de prisão, ou receber uma multa de até US$ 100 mil. Nunca foi escondido de ninguém que estavam ali prestando serviço para o governo de modo a ajudar o país, mas só ficaram sabendo o que era quando as bombas foram liberadas sobre as cidades japonesas.
Dois anos após o fim da guerra, Oak Ridge foi liberada e entregue aos civis, tornando-se um local histórico onde marcas da época foram preservadas, como algumas das antigas torres de guarda nos limites da cidade.
Também foi estabelecido o Museu Americano de Ciências e Energia, que possui um acervo grande de peças da época, como os reatores de grafite e os outdoors que lembravam explícita e diariamente os funcionários de que tudo o que acontecia nas instalações de pesquisa e da própria cidade, ficavam ali.
Incorporada em 1959, atualmente a cidade conta com pouco mais que 31 mil habitantes, segundo dados do censo de 2020, e todo o mês de junho é realizado o Festival da Cidade Secreta, em que atores reencenam alguns acontecimentos da Segunda Guerra Mundial.