O desafio filosófico que sobreviveu por mais de 300 anos

11/10/2022 às 13:002 min de leitura

Ao longo da história, filósofos sempre fizeram com que as pessoas pensassem em diferentes questões com o objetivo de ampliar a nossa visão sobre a vida, sobre o planeta e outros tantos temas. Embora muitos dessas "provocações" pudessem ser respondidas de maneira lógica, ou até mesmo fosse possível comprová-las, uma perdurou por mais de 300 anos sem uma resposta conclusiva.

Criado pelo naturalista irlandês William Molyneux, seu objetivo era refletir sobre a percepção do mundo, a partir de diferentes sentidos.  

O Problema de Molyneux

(Fonte: Wikimedia commons)(Fonte: Wikimedia commons)

Em 1690, Molyneux enviou uma carta ao filósofo inglês John Locke — conhecido ainda hoje como o "pai do liberalismo" —, apresentando um desafio mental. Molyneaux era casado com uma mulher cega, o que o inspirou a pensar sobre a maneira como nosso cérebro compreende o mundo a nossa volta. Na carta enviada a Locke, o naturalista escreveu o seguinte:

Suponha um homem, nascido cego e agora adulto, que aprendeu pelo toque a distinguir entre um cubo e uma esfera do mesmo metal e do mesmo tamanho, de modo a dizer, quando ele sente uma ou outra, qual é o cubo e qual é a esfera. Suponha então que o cubo e a esfera sejam postos sobre uma mesa e o homem cego possa agora ver. Pergunta: Se apenas por sua vista, antes de tocá-las, ele poderia agora distingui-las e dizer qual é o globo e qual é o cubo?

Na mesma carta, Molyneaux oferece uma resposta. Ele afirmara que ter o conhecimento prévio pelo toque, não iria permitir que uma pessoa pudesse compreender o objeto da mesma maneira pela visão.

Na sua resposta ao problema, Locke afirmou que "o homem cego, à primeira vista, não seria capaz, com certeza, de dizer qual seria a esfera e qual seria o cubo, se ele apenas olhasse para eles, mesmo que ele pudesse infalivelmente nomeá-los pelo toque e certamente distingui-los pela diferença sentida em suas formas".

O Problema de Molyneux, por sua dificuldade de ser respondido empiricamente, se manteve relevante nos séculos seguintes. Algumas tentativas de experimentos para solucioná-lo foram realizadas, mas sem de maneira inconclusiva. Isso mudou em 2011.

Uma solução definitiva?

(Fonte: Unsplash)(Fonte: Unsplash)

Embora a solução original para o problema de Molyneux tenha sido bem recebida por muito pensadores, ela nunca pode ser considerada definitiva. Porém, em 2011, Richard Held e Pawan Sinha, dois pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conseguiram realizar um experimento que mudou tudo.

A dupla liderou um experimento chamado Projeto Prakash. Nele, um grupo de crianças e adolescentes nascidos cegos congênitos foram operados para restaurar sua visão. Para poder avaliar o Problema de Molyneux de maneira empírica, depois da cirurgia os pacientes receberem brinquedos parecidos com LEGO para brincar. 

O teste consistia em pedir para que eles conectassem blocos que estavam diante dos seus olhos, com outros que eles poderiam encostar, mas não ver. O que foi observado é que as crianças não conseguiram transferir o conhecimento adquirido com o tato, para a visão.

No artigo, publicado em 2011 na Nature Neuroscience, Held e Pawan afirmaram que “A nova pesquisa parece mostrar definitivamente que Locke estava certo. O cérebro não consegue entender imediatamente o que os olhos estão captando, e o cego que tem a capacidade de ver não consegue distinguir os dois objetos. Mas ele pode aprender muito rapidamente a fazê-lo”.

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