Ciência
20/04/2024 às 14:00•2 min de leituraAtualizado em 20/04/2024 às 14:00
Imagine que para sobreviver você precisasse ficar batendo a sua cabeça contra um tronco de madeira durante horas e horas por todos os dias da sua vida. Certamente, você sairia todo arrebentado e correndo sérios riscos de desenvolver alguma lesão cerebral grave, não é mesmo?
Porém, para os pica-paus, essa bateção faz parte da rotina. Essas incríveis aves passam horas martelando repetidamente os troncos das árvores com seus bicos na esperança de fazerem buracos e desenterrarem insetos para comer. E, mesmo assim, esses pequeninos animais não precisam lidar com concussões. Como isso é possível?
Por conta do repetido choque de cabeça dos pica-paus contra as árvores, pesquisadores passaram a levantar a hipótese de que o osso entre o bico e a caixa craniana dessas aves deveria absorver o impacto para proteger o cérebro de lesões. Contudo, novos estudos sugerem que, na verdade, a cabeça e o bico deles agem como um martelo rígido.
Segundo o autor do estudo e biomecânico evolutivo da Universidade da Antuérpia, Sam Van Wassenbergh, seria impossível para o pica-pau tentar absorver parte da energia que direciona para a árvore na tentativa de diminuir o risco de lesões. O motivo? Isso faria com que menos energia fosse transmitida ao tronco e, consequentemente, ele tivesse que bicar com ainda mais força para fazer buracos por não ser tão eficiente.
Para testar essa hipótese, Wassenbergh e seus colegas utilizaram vídeos de alta velocidade para observar três espécies de pica-paus em ação. Os dados apenas confirmaram a teoria inicial: a cabeça dessas aves atua com pouco ou nenhum amortecimento das vibrações de suas bicadas.
Para entender como os pica-paus podem passar dias e dias martelando as árvores sem sofrerem concussões, os pesquisadores usaram simulações para calcular o impacto no cérebro das aves em relação aos limites causadores dessas lesões em seres humanos — um impacto com força de 135 g é o necessário para gerar uma lesão.
Como os pica-paus são muito menores do que nós, o comprimento dos seus cérebros é cerca de um sétimo do cérebro humano. Isso significa que o órgão é também capaz de suportar impactos até sete vezes superiores. “Eles poderiam atingir a árvore em velocidades mais altas e ainda assim não sofrer uma concussão”, disse Wassenbergh.
Dados científicos estimam que os pica-paus vivenciam uma força de até 400 g enquanto estão bicando uma árvore, mas seriam capazes de suportar um impacto de até 1.000 g. Sendo assim, é como se esses animais mantivessem uma "margem de segurança" para não sofrerem lesões cerebrais, mesmo que acidentalmente atinjam um material mais rígido que a madeira.