Artes/cultura
27/11/2022 às 08:00•3 min de leitura
A tuberculose foi o centro de uma enorme preocupação pública no século XIX, sendo uma doença endêmica entre as classes mais pobres e responsável por um alto número de mortes, junto à cólera e a varíola.
O que foi uma aflição mortal por muitos anos, porém, passou a ser estranhamente romantizada pela população, virando parte de obras de figuras famosas como Lorde Byron e Álvares de Azevedo, além de influenciar os trabalhos de Edgar Alan Poe, que perdeu a esposa para a enfermidade.
E para comprovar seu imenso impacto, separamos uma lista com seis formas que essa infecção bacteriana influenciou a sociedade durante esta época.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Do início até a metade do século XIX, quando a tuberculose estava no auge, seus sintomas, que envolviam constituição frágil, pele pálida, bochechas coradas pela febre e lábios avermelhados por tossir sangue, eram vistos como extremamente atraentes.
Chegando ao patamar de padrão de beleza na época, e como maquiagem era mal vista por ser associada a meretrizes e atrizes, muitas mulheres da alta sociedade sonhavam secretamente em contrair a doença para se tornarem mais bonitas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
No início, a moda também seguiu os padrões de beleza, trazendo peças para o vestuário feminino concebidas para imitar e até mesmo destacar os sintomas da enfermidade, como, por exemplo, espartilhos para acentuar cinturas finas e saias volumosas que ampliavam o visual emaciado.
Porém, quando passou a ser compreendida pela sociedade médica como uma infecção bacteriana, na segunda metade do século XIX, a tuberculose influenciou mais uma vez o estilo das vestimentas. As campanhas de saúde, para evitar a propagação da doença, afirmavam que saias longas poderiam levar os germes das ruas para as casas, e os espartilhos limitavam a circulação sanguínea e o movimento pulmonar.
As extravagantes barbas também caíram em desgraça por serem consideradas muito perigosas, fazendo com que os homens da época se livrassem rapidamente delas não só por segurança, mas também para não ficar fora da nova moda.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A forma com que artistas renomados deste período abordaram a tuberculose em seus trabalhos contribuiu para sua grande romantização, com obras sobre personagens trágicos sucumbindo ao Mal do Século passando a povoar a mente de muitas pessoas. Alexandre Dumas Filho, por exemplo, deu à enfermidade a alcunha de doença do amor em sua obra A Dama das Camélias (1848).
Além disso, era de se esperar que entre o grande número de mortos também se encontrassem pessoas extremamente talentosas, gerando assim uma falsa concepção de que a criatividade poderia aumentar conforme o corpo sofria com a infecção, levando muitos integrantes do ramo de entretenimento a desejarem ficar doentes para melhorar suas habilidades.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em um período repleto de falecimentos trágicos por diversas doenças, e no qual a tuberculose ganhava ares românticos, não é de se estranhar que o fim da vida virasse uma espécie de obsessão para a sociedade. Leitos de morte se tornaram o centro de muitos lares, com as palavras finais dos moribundos sendo consideradas de extrema importância.
Além disso, os rituais de luto também ganharam mais atenção, exigindo que mulheres usassem apenas preto por um período de doze meses e um dia, com joias mortuárias e outros acessórios fúnebres para o lar ganhando popularidade.
Robert Koch. (Fonte: Wikimedia Commons)
Acredita-se que algumas formas da tuberculose existam desde a Grécia antiga, sendo originárias do primeiro gado domesticado. Porém, ela só recebeu esse nome após 1882, quando o médico alemão Robert Koch identificou o bacilo causador da doença, o Mycobacterium tuberculosis.
Seus experimentos revolucionaram a compreensão da enfermidade, comprovando que o muco expelido pelo trato respiratório era uma das principais fontes de propagação, o que mudou drasticamente as medidas de higiene e saneamento na sociedade.
Porém, o alemão não acreditava que as variações bovinas e humanas da infecção fossem semelhantes, o que permitiu que o leite contaminado continuasse espalhando a doença até que a técnica de pasteurização, desenvolvida pelo francês Louis Pasteur, ajudasse a controlar o problema.
Com as descobertas de Koch, o campo de medicina também passou por grandes evoluções, com equipamentos sendo concebidos para detecção e tratamento de doenças, a adoção de procedimentos esterilização e antissépticos, além do surgimento de novas técnicas cirúrgicas especializadas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A compreensão de que hábitos de higiene e saneamento eram essenciais para conter a tuberculose enfatizou a necessidade de melhorias na qualidade de vida dos mais pobres.
Durante a segunda metade do século XIX, medidas foram criadas em diversos países para reduzir habitações superlotadas, além de reformas que auxiliavam a classe trabalhadora e recursos comunitários para os necessitados.