Artes/cultura
12/12/2019 às 04:00•2 min de leitura
Em artigo publicado no Science Advances estabeleceu uma peculiar relação entre as mortes de negros desarmados, por grupos policiais, e a saúde de crianças antes mesmo de seu nascimento. Motivados, em sua grande parte, por ideologias racistas, os encontros fatais entre os defensores da lei e membros das comunidades podem ser capazes não só de destruir famílias e quebrar a confiança entre o órgão público e a sociedade, mas gerar impactos muito mais profundos e severos na constituição e na continuidade da raça humana local.
O estudo foi realizado pelo sociólogo Joscha Legewie, da Universidade de Harvard, e focou em membros da comunidade californiana, analizando dados de 2 mil ofensivas policiais e de 3,9 milhões de nascimentos entre 2007 e 2016, e foi embasado em uma matéria redigida pelo New York Times, comparando as disparidades em níveis de saúde entre bebês brancos e negros, evidenciando como possíveis consequência do racismo estrutural, impactando o stress da gravidez. Dessa forma, o autor buscou observar se os encontros policiais também estariam, de certa forma, envolvidos com a questão clínica.
Dessa forma, Legewie chegou em resultados impactantes, ao observar que os casos onde pessoas negras desarmadas eram assassinadas a menos de 1 km de distância da casa de grávidas geravam fetos menos pesados, cerca de 50 g a 80 g a menos, se comparado à mulheres grávidas que moravam fora da zona. Os resultados foram observados estabelecendo um período de primeiro ou segundo mês de gestação e calculados apenas em casos onde não havia porte de armas por parte do morto.
"Essa descoberta indica que o efeito é específico de raça e conduzido por percepções de discriminação e racismo estrutural em vez de ameaças gerais de crime e violência", confirma Legewie, enfatizando que o stress e o trauma causado pelo assassinato de negros desarmados próximos à residência de grávidas pode causar severos impactos no peso do bebê ainda em estágio de feto.
Além de afetar o peso das crianças, o sociólogo também apresenta que as mortes podem ativar células na placenta responsáveis pela produção de um hormônio específico capaz de causar nascimentos prematuros, crianças com baixo peso, problemas de saúde, dificuldades de aprendizado, déficits de atenção e hiperatividade.