Doces contendo alucinógenos ilegais já causaram 180 doenças nos EUA

13/12/2024 às 12:003 min de leituraAtualizado em 13/12/2024 às 12:00

Em meados de 2019, a empresa Diamond Shruumz foi fundada visando oferecer uma experiência diferenciada e acessível àqueles que se interessam por cogumelos psilocibinos e seus derivados, desenvolvendo desde barras de chocolate a gomas contendo o psicoativo. Rapidamente, a marca se tornou referência no mercado de psicodélicos exatamente por seu foco na qualidade dos produtos e em proporcionar uma experiência "controlada e segura".

O posicionamento da marca no mercado foi como uma fornecedora premium desses produtos, explorando o crescente interesse pelo uso terapêutico e recreativo dos cogumelos psilocibinos após os avanços na pesquisa científica sobre os benefícios terapêuticos deles em 2018, incluindo o tratamento de condições de algumas doenças emocionais, como depressão, ansiedade e Transtorno do Estresse Pós-Traumático.

Em junho desse ano, o Centro de Controle de Doenças (CDC) e o Food and Drug Administration (FDA) receberam relatos de doenças agudas graves e outros efeitos adversos após o consumo de barras de chocolate, cones e gomas da marca Diamond Shruumz por meio de vários centros de intoxicação espalhados pelos Estados Unidos. Rapidamente, o FDA emitiu um alerta de que doces da marca estavam carregados de alucinógenos ilegais.

O que acontece

(Fonte: Getty Images/Reprodução)
A psilocina é um princípio ativo dos cogumelos mágicos, responsável por causar alucinações. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O centro de controle de intoxicação Blue Ridge Poison Center (BRPC) em Charlottesville, Virgínia, publicou um estudo mostrando que vários doces de cogumelos, amplamente promovidos como contendo ingredientes psicodélicos legais, na verdade, contém substâncias alucinógenas ilegais.

Foi identificado em alguns doces vendidos em postos de gasolina e tabacarias, a psilocina, o princípio ativo responsável pelos efeitos alucinógenos da psilocibina, que, embora não seja viciante, pode levar a efeitos psicológicos imprevisíveis. Em doses elevadas, acaba resultando em experiências desorientadoras, conhecidas como "bad trips". Também detectaram componentes do cogumelo Amanita muscaria, como o ácido ibotênico, que se transforma em muscimol em contato com o organismo, se tornando neurotóxico e podendo causar até coma e morte em alguns casos.

Os pacientes avaliados no estudo da BRPC apresentaram taquicardia, confusão, ansiedade, sonolência, náuseas e até dor torácica. Todos informaram que ingeriram diferentes marcas de gomas de cogumelo microdosadas. Os investigadores compraram seis pacotes de cinco marcas diferentes de gomas e descobriram que quatro delas continham psilocibina ou psilocina não rotuladas, ambas substâncias ilegais na Virgínia, onde eram vendidas. Ácido ibotênico, muscimol e muscarina também não estavam presentes na biblioteca de correspondência.

Nada é o que parece

(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Mais de 180 doenças já foram documentadas nos EUA ligadas ao consumo de doces e gomas de cogumelo com componentes ilegais ou superdosadas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Já são 180 doenças documentadas, incluindo 73 hospitalizações e 3 mortes ao longo de 34 estados dos EUA, todas ligadas aos produtos das marcas Diamond Shruumz e a Wonderland Legal Psychedelics. A Prophet Premium Blends, empresa que fabrica o Diamond Shruumz, disse em seu aviso de recall dos produtos que cessou a produção e distribuição deles, citando que encontraram "níveis tóxicos de muscimol", uma causa potencial de doenças, e outras substâncias.

Os especialistas ainda não descobriram quais quantidades de muscimol foram encontradas nos produtos e quais deles foram afetados. Com isso, fica ainda mais difícil determinar o porquê as pessoas estão ficando tão doentes ao ingerirem esses comestíveis, visto que nenhuma das descobertas explica adequadamente o fenômeno.

No entanto, o que detectaram até o momento foi a inconsistência da composição perigosa e escusa desses produtos. As gomas e barras de chocolate da Diamond Shruumz continham uma versão sintética da psilocibina, que não é uma substância ilegal, mas pode ser considerada sob a lei federal devido a sua semelhança com a psilocina. Outras substâncias também foram encontradas, como o medicamento anticonvulsivante pregabalina, vendido sob a marca Lyrica, e o kava, normalmente usado como sedativo.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Investigadores descobriram que produtos microdosados com psicodélicos podem ter substâncias nocivas. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

Para especialistas, como o Dr. Avery Michienzi, toxicologista médico da Universidade da Virgínia, é assustador adquirir um produto esperando por um tipo de experiência e encontrando outra. É ainda mais perigoso considerando que estamos falando de uma indústria que não para de crescer em clientela, fruto do "boom" da canábis sintética, entre 2008 e 2015.

Muito embora a Diamond tenha feito um recall dos seus produtos e emitido um comunicado pedindo para que as pessoas não comprem mais, o problema não é exclusivo dela e as intoxicações continuam se proliferando. 

O BRPC fez testes em várias marcas que também continham termos em suas embalagens indicando "compostos psicodélicos" ou uma descrição vaga e cheia de chavões, como era o caso dos produtos Diamond Shruumz. Como esperado, descobriram uma série de ingredientes não declarados no rótulo, desde o alucinógeno DMT e kratom, que podem levar ao vício em opioides, ao estimulante efedrina, que favorece o aumento da pressão arterial.

Enquanto isso, as pessoas continuam ingerindo esses comestíveis de ingredientes tão sintéticos ou adulterados em concentrações variadas que nem os especialistas conseguem determinar o que são e o que podem causar no corpo humano.

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