Ciência
13/12/2024 às 18:00•2 min de leituraAtualizado em 13/12/2024 às 18:00
Sete mil anos atrás, arqueiros neolíticos da Península Ibérica eram mestres na arte de criar armas. Prova disso é a recente descoberta do que podem ser as cordas de arco e flechas emplumadas mais antigas da Europa. Encontrados em uma caverna perto de Granada, na Espanha, esses artefatos surpreendem pela qualidade dos materiais usados e pela incrível habilidade técnica dos seus criadores.
Essa caverna, conhecida como Cueva de Los Murciélagos (Caverna dos Morcegos), já era famosa por ter sido descoberta por mineradores no século 19. Além das armas, a caverna abrigava restos humanos, sugerindo que o local tinha um propósito funerário. A atmosfera seca da caverna ajudou a preservar os objetos, mantendo-os em perfeito estado por milênios e permitindo que os cientistas explorassem segredos fascinantes dessas relíquias da Idade da Pedra.
Entre os achados estão duas cordas de arco feitas com uma combinação inusitada de materiais. Tecidas com tendões de cabras, javalis e cervos, essas cordas foram projetadas para ter alta resistência e flexibilidade. A pesquisadora Raquel Piqué explicou que essa técnica possibilitou a criação de cordas extremamente eficientes, atendendo às necessidades dos arqueiros experientes da época.
“Esse grau de precisão e maestria técnica mostra o conhecimento excepcional desses artesãos neolíticos”, destacou Piqué. Os pesquisadores descrevem essas cordas como “cordas torcidas em S” com espessura de até quatro centímetros. A estrutura e o material davam elasticidade suficiente para funcionar como cordas de arco ideais.
Curiosamente, técnicas parecidas foram identificadas em artefatos encontrados com a famosa múmia Ötzi, o Homem de Gelo, que viveu milhares de anos depois nos Alpes. Parece que esses antigos arqueiros realmente estavam à frente de seu tempo!
As flechas encontradas na Cueva de Los Murciélagos também chamaram a atenção por seus materiais únicos. Enquanto flechas antigas normalmente eram feitas de pinho ou avelã, essas tinham hastes de oliveira e salgueiro. Segundo os especialistas, a oliveira foi uma escolha estratégica, pois sua madeira é resistente e densa, garantindo maior estabilidade e penetração no voo. Já o salgueiro, por ser mais leve, era ideal para flechas rápidas e de longo alcance.
Além disso, uma das flechas de junco trazia penas presas com fibras naturais, tornando-se a flecha emplumada mais antiga já encontrada na Europa. Esse detalhe não era apenas estético: as penas ajudavam a estabilizar a flecha durante o voo, aumentando a precisão e a eficiência do disparo.
A descoberta desses artefatos levanta questões intrigantes sobre o papel da violência nas sociedades neolíticas. Os pesquisadores apontam que há evidências de conflitos e até canibalismo em contextos semelhantes da Espanha. No entanto, ainda não está claro se essas práticas tinham motivações ritualísticas ou eram resultado de disputas. Por enquanto, a Cueva de Los Murciélagos continua guardando seus mistérios. Futuras análises podem ajudar a entender melhor como esses artefatos eram usados e que histórias eles têm para contar.