Como será o futuro do mundo sem estacionamentos?

02/07/2023 às 13:003 min de leitura

Em 2022, foi registrado que há 1,446 bilhão de carros pelo mundo, isto é, 17,7% das pessoas têm carro. Os números são, no mínimo, assustadores. Segundo a agência de marketing digital automotivo Hedges & Company, cerca de um terço de todos os veículos estão na região Ásia-Pacífico, que sustenta uma frota de 531 milhões de veículos.

De 1,45 bilhão de carros que rodam pelas estradas e ruas do mundo, apenas cerca de 80 milhões foram construídos e lançados nos 12 meses anteriores.

Em questões ambientais, isso significa que o mundo está ativo em seu caminho para sufocar a humanidade com as próprias emissões tóxicas. Afinal, o setor de transporte é o responsável pela maior parte da queima do petróleo do mundo, e é uma das maiores fontes globais de gases de efeito estufa. Os carros são um dos principais contribuintes para a poluição do ar, produzindo quantidades significativas de óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e material particulado.

Agora, imagine, com essa quantidade de veículos, como será o futuro do mundo sem estacionamentos?

Um problema urbano

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Estacionamentos são um problema para as cidades, mas talvez não para quem possui um veículo e não veja como opção deixá-lo estacionado em qualquer lugar na rua, arriscando entrar para as estatísticas de roubo ou vandalização.

No momento, os Estados Unidos lideram o ranking mundial na construção de vagas de estacionamento desde meados do século XX, quando os códigos de zoneamento da cidade começaram a incluir requisitos e cotas à maioria dos empreendimentos para incluir vagas de estacionamento. A oferta disparou, e um estudo de 2011 da Universidade da Califórnia estimou que havia mais de 800 milhões de vagas de estacionamento no país, cobrindo cerca de 25 mil quilômetros quadrados de terra. Atualmente, há 1 bilhão de vagas, quatro para cada carro existente.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Para Donald Shoup, engenheiro e professor de planejamento urbano da UCLA – e conhecido por ser o maior ativista contra os estacionamentos –, isso cria trechos de concreto intransitáveis e estéreis onde poderia haver casas, transformando cidades não agradáveis de se viver. Um exemplo disso é o estacionamento do shopping West Edmonton Mall, em Alberta, no Canadá, que possui espaço para acomodar 20 mil carros. Sendo que, a poucos quarteirões do local, uma quantidade semelhante de espaço é ocupada por um bairro de quase 500 casas.

A crítica que também prevalece aos estacionamentos é que, mesmo quando escondidos em estruturas subterrâneas ou entre os andares de uma construção, eles são grandes e muitas vezes vazios. No final das contas, nem todo mundo deixa de ir a algum lugar pela quantidade limitada de vagas, muito menos visita uma cidade por ser líder em estacionamentos.

Resgatando o que perdemos

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Dessa forma, as cidades estão repensando o uso de estacionamentos cada vez mais, conforme os centros urbanos em todo mundo começam a priorizar o desenvolvimento urbano caminhável e o tipo de vida que não requer um carro para fazer tudo.

É essencial que as cidades, sobretudo turísticas, se pareçam lugares onde as pessoas querem passar o tempo. Essa ideia ciclável não é apenas boa para o tráfego, mas para os negócios também, visto que muitas cidades estão reformando suas áreas comerciais no centro para poder encaixar mais lojas no lugar de estacionamentos.

Isso ligou um alerta nas autoridades municipais, que começaram a se afastar das políticas gerais que fornecem estacionamentos abundantes, exigindo quantidades mínimas de lotes para estacionar para tipos específicos de empreendimentos.

Nesse passo, um futuro em que estacionamentos sejam mais eficientes, acessíveis, convenientes e menos poluentes, parece cada vez mais próximo. O estacionamento inteligente é uma das alternativas para reduzir o congestionamento da cidade ao ajudar os motoristas a encontrarem rapidamente os lugares mais disponíveis perto de onde desejam estacionar. A ideia é que, em caso de não encontrarem, as pessoas optem por utilizar o transporte público ou carros de aplicativo.

(Fonte: Getty Images)(Fonte: Getty Images)

Os carros autônomos são a tecnologia emergente considerada líder na revolução do futuro das estruturas de estacionamento, devido ao seu potencial na redução drástica da necessidade de vagas. Afinal, os carros poderão deixar seus passageiros e retornar a um lote designado, eliminando a necessidade de comércios, por exemplo, ocuparem tanto espaço com estacionamentos particulares.

Uma pesquisa da Universidade de Toronto, no Canadá, confirmou que os estacionamentos para veículos autônomos podem acomodar até 62% mais veículos do que os estacionamentos comuns, facilitando a vida de quem dirige. Em dez anos, a era da propriedade de carros particulares pode atingir seu pico, à medida que novas redes de veículos compartilhados, elétricos e possivelmente autônomos se tornam mais baratas, como ressaltou um relatório do Rocky Mountain Institute. 

Ou seja, é uma questão de tempo, e isso significa que as cidades serão redesenhadas cada vez mais para resgatar o que o excesso prejudicou: espaço e bem-estar.

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