Artes/cultura
06/11/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 06/11/2024 às 06:00
Muitos de nós simplesmente AMAMOS sentir medo. Claro, aqui estamos falando de um medo controlado, como quando entramos em alguma casa mal-assombrada no parque de diversão ou nos deliciamos assistindo a filmes de horror.
Para algumas pessoas, parece inconcebível imaginar que há quem goste de passar por essa sensação por escolha própria. Mas a psicologia pode explicar o que impulsiona esse fascínio pelo medo.
Especialistas dizem que a experiência do medo controlado pode até trazer benefícios aos humanos, uma vez que oferece a sensação de uma euforia fisiológica sem que haja um risco real.
O medo traz efeitos físicos no organismo. A adrenalina aumenta, assim como a frequência cardíaca e a pressão arterial, e a reação de fuga é ativada. Todo esse mecanismo é positivo, já que é o que vai nos proteger se estivermos diante de uma ameaça de verdade.
De acordo com a psicologia, quando experimentamos o medo controlado, somos capazes de desfrutar de uma sensação energizada, semelhante à euforia que acomete um corredor, sem ter que enfrentar riscos. Depois que a sensação de medo passa, o corpo libera o neurotransmissor dopamina, que proporciona sensações de prazer e alívio.
Um estudo verificou que um efeito semelhante ocorre nas pessoas que visitavam casas mal-assombradas. Elas exibem menos atividade cerebral em resposta a estímulos e menos ansiedade pós-exposição. Esta descoberta fez que pesquisadores sugerissem que expor-se a filmes de terror ou videogames assustadores pode nos ajudar a relaxar.
Um dos impulsos naturais dos seres humanos é o desejo de pertencer a um grupo social. Curiosamente, passar por experiências de medo em conjunto ajuda a fortalecer os laços entre os indivíduos. Um exemplo disso é a experiência dos veteranos de guerra ou de sobreviventes de acidentes naturais.
A psicóloga Sarah Kollat, que também é professora na Universidade Penn State, afirma que as experiências de medo controlado causam o mesmo efeito de fortalecimento de vínculos, mesmo que a experiência seja artificial. Isso porque a exposição ao estresse desencadeia não apenas a resposta de luta ou fuga, mas em muitas situações também inicia o que os psicólogos chamam de "busca de apoio" (uma tradução para o conceito de tend-and-befriend).
Essa sensação pode reforçar as conexões sociais ao fazer que o corpo libere oxitocina, o chamado "hormônio do amor". As situações estressantes vividas em conjunto podem aumentar a liberação desse hormônio para podermos iniciar estratégias de enfrentamento social.
Esse efeito é tão forte que alguns pesquisadores do Laboratório de Medo Recreativo da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, constataram que as pessoas que consumiam regularmente mídia de terror, como filmes, eram mais psicologicamente resilientes durante a pandemia de COVID-19 em relação às que não faziam isso.
Por isso, na próxima vez que alguém estranhar o seu gosto por filmes de horror, avise que você está simplesmente treinando seu organismo para enfrentar situações difíceis e fortalecendo os seus laços com seus amigos. Vai funcionar!