Artes/cultura
03/08/2024 às 16:00•4 min de leituraAtualizado em 03/08/2024 às 16:00
Em maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em conjunto com a PMNCH, lançaram um relatório que aponta uma crise mundial: 152 milhões de bebês nasceram prematuros na última década, sendo que as taxas de nascimentos prematuros não mudaram também nesses últimos 10 anos em nenhuma região do mundo.
Estima-se que 13,4 milhões de bebês nasceram prematuros em 2020, com quase 1 milhão morrendo de complicações prematuras, conforme o relatório. Isso equivale a cerca de 1 em cada 10 bebês prematuros. A cada 40 segundos, 1 desses bebês morre, fazendo do nascimento prematuro a principal causa de mortes infantis, respondendo por mais de 1 em cada 5 de todas as mortes de crianças ocorridas antes do quinto aniversário. A maioria desses sobreviventes estão fadados a enfrentar consequências de saúde ao longo da vida, com maior probabilidade de incapacidade e atrasos no desenvolvimento.
O relatório apontou que o motivo para isso envolve mudanças climáticas e danos ambientais, covid-19, impactos emocionais causados por conflitos, aumento do custo de vida, excesso de ftalatos, condições crônicas de saúde e entre outros. Inclusive, acredita-se que a poluição do ar contribua para 6 milhões de nascimentos prematuros a cada ano.
Uma pesquisa recente feita pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) mostrou que as taxas de nascimentos prematuros nos Estados Unidos aumentaram em 12% na última década. Em meio a isso, apareceu que quase 1 em cada 12 recém-nascidos no país em 2020 (cerca de 300 mil bebês) foram expostos a drogas antes de nascer.
Os dados lançaram luz em como a exposição de bebês a drogas está se tornando algo tão comum quanto os nascimentos prematuros.
Durante a gestação, bebês estão sendo expostos a índices alarmantes de álcool, opioides, maconha ou cocaína, o que os coloca em maior risco de nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e uma variedade de deficiências físicas e até mesmo mentais.
Esses tipos de substâncias afetam direta ou indiretamente o desenvolvimento fetal ao cruzar a barreira placentária, podendo propiciar um desenvolvimento anormal. Se o uso de drogas afetar os órgãos da mãe durante a gestação, o fluxo sanguíneo para a placenta pode reduzir e prejudicar a saúde do feto.
Os EUA enfrentam uma disparidade sociodemográfica e geográfica com relação a essas estatísticas, visto que em algumas regiões, como a Virgínia Ocidental, um estado rural dos Apalaches, existe uma luta contra taxas altas de abuso de substâncias.
O trabalho de pesquisa do Projeto WATCH, um sistema de vigilância da Virgínia Ocidental que inclui dados de exposição de bebês a substâncias nocivas durante o nascimento, financiado pelo Departamento de Saúde –, descobriu que entre 2020 e 2022, a exposição pré-natal a algumas substâncias foi 50% maior do que a taxa nacional. Quase 1 em cada 8 bebês nascidos no estado foram expostos a substâncias durante a gravidez.
Os pesquisadores descobriram que a taxa de exposição pré-natal à canábis foi de 80 a cada 1 mil nascimentos, enquanto a de opioides foi de 44 a cada 1 mil nascimentos. Ainda, 1 em cada 5 mulheres no estudo fumavam, e 64% dos bebês sofreram consequências por conta disso. O trabalho demonstrou que o consumo de álcool durante a gravidez está associado ao parto prematuro e ao baixo peso do bebê.
Esses números refletem os diversos problemas econômicos do estado, incluindo pobreza, baixa escolaridade e oportunidades limitadas de emprego que propiciam um estresse crônico, fator de risco conhecido por abrir as portas para o uso – e às vezes abuso – de substâncias.
O isolamento geográfico da região da Virgínia Ocidental também limita o acesso a serviços de tratamento de saúde, visto que metade da população vive em áreas rurais com um número limitado de hospitais e clínicas.
Cocaína, metanfetaminas, ecstasy e estimulantes prescritos, como aqueles usados para o tratamento de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade), usados de maneiras ilícita ou indevida, aumentaram entre mulheres grávidas na última década. E, apesar dos esforços nacionais e estaduais, a crise de opioides e a prevalência do uso de estimulantes pré-natais continua sendo uma epidemia crescente e pouco reconhecida nos EUA.
Enquanto isso, quase 1 em cada 500 bebês em hospitais na Inglaterra nasce dependente de algum tipo de substância. Dos 72 fundos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde que responderam a uma solicitação que consta na Lei de Liberdade de Informação, a taxa média de nascidos com síndrome de abstinência neonatal foi de 0,2%.
A unidade de dados Look North da BBC e a unidade de dados das regiões inglesas pediram aos hospitais do Serviço Nacional de Saúde que fornecessem detalhes sobre o número de nascidos viciados em drogas entre 2011 e 2015. Assim como nos EUA, os números apresentaram uma grande variação geográfica. Um em cada 100 nascidos no Hospital Bedford, em 2015, apresentou sinais de vício neonatal em drogas. Em contraste, o hospital Leicester General teve uma das taxas mais baixas, com 1 em cada 5 mil bebês viciados em uma substância nociva.
Vale acrescentar que a cidade de Bedford possui uma população de aproximadamente 91 mil pessoas, das quais cerca de 31 mil vivem na pobreza.
Bedford está na lista das cidades do Reino Unido que mais lutam contra a precariedade, apesar de estar localizada na região sudeste da Inglaterra, considerada rica, onde os alugueis e o custo de vida continuam a subir. Aqueles que trabalham para tratar mães e bebês dependentes químicos dizem que a maioria dos pais vem de um contexto socioeconômico desfavorecido, com a maioria dos casos envolvendo abuso de heroína, cocaína e álcool.
Especialistas de saúde na Inglaterra dizem que o vício neonatal é uma tendência que está em declínio, como mostraram os dados nos últimos 4 anos. Por outro lado, infelizmente essa ainda não é a realidade do quadro mundial.