Ciência
31/07/2017 às 04:10•4 min de leitura
As animações fazem parte do imaginário das pessoas há anos e, apesar de serem consideradas muito infantis na maioria das vezes, nas mãos certas, elas têm o poder de compor mundos perturbadores, cheios de terror, psicodelia e bizarrices. Mais do que isso, através de alguns rabiscos e cores, elas mergulham em partes profundas da consciência para cavar a loucura que os humanos mantêm lá.
No enorme mundo das produções de filmes animados, existem alguns títulos que abraçam tudo isso: realidades alternativas, extraterrestres, fantasmas, insanidades... Portanto, tenha muito cuidado ao assisti-los! Veja a seguir 5 dos mais bizarros de todos os tempos:
O primeiro filme da nossa lista é uma produção dirigida pelo — então — famoso George Dunning e é baseada no álbum dos Beatles de mesmo nome. Fazendo jus à citação do início do filme "Nada é real", seu enredo toma lugar no conhecido conto de Atlântida: o fundo do mar, uma terra de música, sonhos e felicidade, com o toque heroico final dos membros da banda através de aventuras para manter a vida lá fora.
O foco notório no poder e na liberdade da mente sobrevive junto com as críticas intrinsecamente apresentadas à religião, às "forças do mal" traduzidas no sistema, ao medo de "dedos apontados" esmagando qualquer um que não siga as regras (que regras?), tudo isso com referências a algumas músicas populares dos Beatles.
Considerado único em razão de sua variada gama de métodos de animação, Piotr Kamler surpreende com um simbolismo não-linear que alcança as ficções científicas descritas apenas em livros muito específicos do assunto.
Tudo acontece em seu próprio mundo, que se mistura com outros pseudo-mundos não necessariamente identificáveis pelo enredo macabro, este que inúmeras vezes sugere o que seria Chronopolis: uma cidade curiosa e etérea perdida no espaço (dos pseudo-mundos), cujos habitantes têm como único trabalho a construção do "tempo".
Assim, temos o cenário perfeito para a criação de situações incomuns (e até criativas) em que diferentes tipos de enigmas envolvem a vida de todos eles. Nenhuma lógica pode ser aplicada aqui, e a ordem dos fatores, de fato, altera o resultado final.
O primeiro anime da lista é, também, o mais sexualizado e malsucedido. Há muita coisa acontecendo aqui. Em primeiro lugar, a obra foi inspirada no livro "Satanismo e Feitiçaria", do escritor francês Jules Michelet, de 1862, o que justifica o âmbito macabro na reflexão sobre a opressão medieval imposta pela Igreja da época. Em segundo lugar, algumas passagens estáticas se assemelham a desenhos expressionistas feitos com uma caneta esferográfica, o mesmo expressionismo que denuncia a escravidão imposta à mente humana e todo o sofrimento viciante que dela decorre.
No entanto, para torná-lo mais linear e conciso, comecemos pela trama. Temos a protagonista, uma bela mulher chamada Jeanne, que teve uma vida quotidiana e simples. Ela era casada com o nosso deuteragonista (um deles), Jean, e quando eles são pressionados a pagar mais para continuar casados e felizes, tudo acontece: eles simplesmente não podem, ela é cobiçada por um barão, logo após por um demônio (o segundo deuteragonista) e, finalmente, pela feitiçaria em si. O resto da história é quase uma classe de História Europeia, mas com um show de imagens psicodélicas no lugar do giz e quadro-negro.
Sexualidade versus resistência. A dual luta entre prazer e reprimenda centra-se na figura feminina de uma sociedade que não é apenas religiosa e arcaica, mas também enfrenta a praga bubônica ao tentar "empurrar" a imagem do Deus perfeito para as cabeças alienadas daqueles que ainda sobrevivem. Este diálogo vai além, acontece dentro dela: "Quem é você? Como você entrou aqui?", como uma menção à tentativa de resistência, enquanto Jeanne já conhece seu destino ao lado do mal: "Eu sempre estive com você".
O premiado diretor húngaro Marcell Jankovics é dotado de uma criatividade que é cativante e única. A produção de "Johnny Corncob" (o mesmo nome do protagonista) originou-se da junção entre o poema épico original "János Vitéz", escrito pelo também poeta húngaro Sándor Petofi e sua posterior adaptação pelo compositor Pongrác Kacsóh. Mais do que isso, é o primeiro longa-metragem animado da história húngara.
O enredo, misturado na maior parte do tempo com sons guturais e sequências de cenas emaranhadas com o ar teatral psicodélico característico do autor, conta a história da jornada épica do nosso herói no clichê de busca de sua amada dama enquanto ele enfrenta o prenúncio da morte, da guerra e da maldade.
Este é o tipo de trabalho que revela a extravagância real de seu criador, dada a mistura de personagens, origens e a forte conexão com a cultura nacional. O próprio Jankovics traduz-se na persistência de realizar um show onde é necessário muito, como fez em seus filmes posteriores, como o mais recente longa-metragem bizarro "The Tragedy of Man", de 2011, cuja produção levou 30 anos para completar.
Nosso primeiro e único filme de stop motion feito com argila também é originário do trabalho de um escritor notório, como o título já sugere. Mark Twain sempre foi um autor peculiar, mas também era um humorista. Então, o que esperar de uma produção como essa? Apesar de todo o zumbido gerado no início da sua concepção, o filme não atraiu tanto público quanto o esperado após seu lançamento.
Todo o trabalho foi inspirado na forte conexão de Twain em relação ao Cometa Halley. Quando se trata do enredo, tudo começa como mais uma aventura habitual desse tipo de animação, envolvendo três de seus famosos personagens: Tom Sawyer, Huck Finn e Becky Thatcher. Depois de embarcar em seu dirigível, os três experimentarão uma jornada no tempo/espaço, no mundo físico e não-físico, no sobrenatural.
Além disso, o filme conta com criaturas bizarras, a insignificância da humanidade, cujas fraquezas são expostas sensivelmente em seu ínterim, a ingenuidade da juventude, não necessariamente expressa através da idade de uma pessoa, mas do quão preparados sua mente e coração estão contra as facetas mais cruéis da condição humana.
*Este texto é de autoria de Diogo Souza.