Ciência
11/03/2019 às 12:00•2 min de leitura
Recentemente, uma ferramenta que pode ajudar a compreender alguns aspectos da cultura de povos nativos da América do Norte foi encontrada nos arquivos de uma universidade dos Estados Unidos. Trata-se de uma agulha que demonstra que os ameríndios já tinham o costume de fazer tatuagens muito antes da chegada dos europeus.
Medindo apenas 9 cm de comprimento, a ferramenta é composta por um cabo de madeira, folhas de yucca e espinhos de cacto. Ela foi encontrada em 1972 no estado norte-americano de Utah e tem cerca de 2 mil anos. Basicamente, isso significa que foi fabricada 1,4 mil anos antes de Cristóvão Colombo aportar no continente.
A ferramenta veio à tona enquanto Andrew Gillreath-Brown, um aspirante a doutorando, fazia um inventário dos registros arqueológicos da universidade. “Quando tirei a agulha da caixa e percebi o que podia ser, fiquei muito animado”, contou ele, que é tão fã de arqueologia e tatuagens que tem um mastodonte desenhado na própria pele.
Os pigmentos encontrados na ponta dos espinhos chamaram a atenção dele. Então, Gillreath-Brown resolveu analisar a ferramenta com um microscópio eletrônico e fluorescência de raios-X. Depois, para se certificar de que uma agulha desse tipo realmente funcionaria para tatuar, ele fez testes com a ajuda de peles de porco.
(Bob Wubner/WSU)
A descoberta de Gillreath-Brown pode nos ajudar a compreender melhor os povos nativos da América do Norte e os motivos pelos quais eles faziam esse tipo de modificação em seus corpos. “Nunca falamos muito de tatuagens em pessoas dessa região porque não existiam evidências diretas disso. Essa ferramenta fornece informações que não tínhamos antes”, explica ele.
“Os estudiosos negligenciam a prática da tatuagem entre os povos nativos da América do Norte, sendo que essa era uma expressão importante para eles”, escreveram Gillreath-Brown e outros pesquisadores em um artigo publicado na revista científica Journal of Archaeological Science. “Decorar o corpo é uma maneira de demonstrar conquistas, alianças, identidades e status”.
O ato de se tatuar é praticado em todas partes do mundo há alguns milênios. Relatos etnográficos entre os séculos XIX e XX dão conta de que várias etnias que vivam no território que hoje corresponde aos Estados Unidos e ao México se tatuavam, embora nenhuma tatuagem tenha sido encontrada em múmias e poucas tenham aparecido em registros arqueológicos.
Embora seja difícil, descobrir quando e onde as tatuagens fora inventadas é essencial para entender os motivos por parte dessa prática que foi e é importante para tantas culturas. No caso dos povos nativos da América do Norte, também ajuda a registrar um costume que foi praticamente apagado após o desembarque dos europeus no continente.