Ciência
28/04/2021 às 15:00•3 min de leitura
Às 11h de 3 de setembro de 1939, o dia que o então ministro do Reino Unido, Neville Chamberlain, anunciou que o país estava entrando na Segunda Guerra Mundial, o governo ordenou que o Jardim Zoológico de Londres fosse fechado, assim como os demais locais públicos onde um grande número de pessoas poderiam se reunir.
Os registros do zoológico indicam que ele estava se preparando para a guerra há algum tempo, pois 2 pandas gigantes, 2 orangotangos, 4 chimpanzés, 3 elefantes asiáticos e um avestruz – considerados os animais mais valiosos da instituição – foram transferidos para uma unidade de segurança do zoológico de Whipsnade, uma pequena freguesia no condado de Bedfordshire. Os que ficaram, porém, sofreram com a morte sistemática para controle de danos.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Os animais peçonhentos foram mortos um a um para eliminar a possibilidade de fuga, caso o zoológico fosse bombardeado. Répteis, como o dragão-de-komodo e os crocodilos chineses, foram salvos, assim como duas enormes pítons consideradas raras. Foi eutanasiada imediatamente qualquer outra espécie de cobra que fosse facilmente encontrada na natureza ou em outros locais do mundo. O mesmo aconteceu com o tanque de peixes, onde a maioria deles foram mortos, exceto as carpas, que foram soltas no lago onde ficavam os flamingos. Novamente, os peixes mais valiosos foram mantidos em banheiras e tanques em regiões mais protegidas da instituição.
Quando o Jardim Zoológico foi reaberto, em 15 de setembro daquele ano, o aquário foi a única atração que permaneceu fechada, tanto devido aos altos custos de funcionamento – uma vez que já estavam poupando verbas para o período de escassez anunciado por Chamberlain –, quanto pelos perigos do bombardeamento.
Quando os ataques começaram a acontecer, os camelos e lhamas foram usados para transportar foragem ao longo do zoológicos para os demais animais, para evitar o desperdício de combustível com veículos motorizados. Os pôneis também trabalharam, ainda que fazendo viagens mais curtas.
(Fonte: My London/Reprodução)
Com a escassez de alimentos devido à impossibilidade de importar a ração da Alemanha, o zoológico criou suas próprias larvas de farinha para os pássaros e mamíferos insetívoros. Os pelicanos foram persuadidos a comer carne coberta com óleo de fígado de peixe, visto que o peixe era muito caro para comprar.
A instituição também apelou à população através dos rádios para que elas colhessem bolotas (frutos que pertencem à família dos carvalhos) para complementar a dieta de alguns animais, como as cutias, esquilos, macacos e veados. O zoológico começou a receber cerca de uma tonelada semanal de bolotas, o que ajudou demais a manter vivos e nutridos os animais.
A administração do zoológico também teve sucesso com a campanha Adote Um Animal, em que até as organizações de proteção foram convidadas a pagar pela manutenção de um animal de sua escolha, custando no máximo 2 euros. As doações se popularizaram entre as pessoas, muito embora muitas tivessem sido evacuadas e quase ninguém mais visitasse o zoológico. A medida foi tão eficaz que prevalece até hoje, embora seja de maneira recreativa.
(Fonte: World War Two Daily/Reprodução)
Ao longo da guerra, o Jardim Zoológico foi bombardeado várias vezes, com avarias que foram desde alguns painéis de vidro quebrados até edifícios inteiros demolidos. A tarde de 27 de setembro de 1940 foi considerada a pior de todas, quando várias bombas demoliram diversas instalações da instituição, rendendo um dano de milhares de euros. No entanto, felizmente nenhum animal se feriu no ataque, apenas uma zebra e um asno selvagem acabaram fugindo.
Só na noite daquele dia, cerca de 25 bombas choveram sobre o zoológico, incendiando o restaurante principal e destruindo um dos túneis. Em janeiro de 1941, o reduto dos camelos foi destruído, porém os animais foram encontrados sem nenhum dano. Apesar dos ataques, o local tentou continuar o mais normalmente o possível, muito embora faltassem recursos e homens para o trabalho, que em sua maioria foram convocados para lutar na guerra.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em junho de 1942, a Sociedade Zoológica estava preocupada com as perdas financeiras e não sabia se conseguiria manter o Jardim Zoológico aberto por muito tempo. Após conversarem com algumas pessoas, eles descobriram que a maioria do público não estava visitando o espaço porque acreditava que estava fechado. Portanto, eles investiram em publicidade para contornar a situação.
Em maio do ano seguinte, o aquário finalmente reabriu e, embora a guerra ainda estivesse longe de terminar, significou um passo importante para a normalização da vida cotidiana da sociedade. O local foi reconstruído, reabastecido com os peixes que não foram mortos e com alguns capturados pelo próprio supervisor do zoológico, que saía em viagens de pesca para capturar peixes de água doce.
No final das contas, apesar dos tempos sombrios que tiveram que enfrentar, o Jardim Zoológico conseguiu sobreviver à guerra e ainda sustenta o título de um dos melhores espaços de vida animal do mundo.