A blitz de Belfast: o bombardeio destrutivo feito pelos nazistas

01/05/2021 às 12:304 min de leitura

No início de 1941, apesar de a Grã-Bretanha ainda não ter sucumbido à invasão da Alemanha nazista, ainda não havia nenhum rastro de vitória pela frente. Os britânicos tentavam proteger seus comboios no Atlântico e seus exércitos enfrentavam desafios cada vez maiores no norte da África, muito embora a Força Aérea Real (RAF) tivesse vencido a Batalha da Grã-Bretanha de 1940, eles não tinham força o suficiente para impedir que as cidades fossem bombardeadas.

Naquela época, os governos da Grã-Bretanha e da Irlanda travavam uma longa guerra fria, por isso Éamon Valera, o irlandês chefe de Estado, rejeitou a oferta de união feita pelo gabinete de Winston Churchill para a entrada da Irlanda na guerra do lado dos Aliados, em troca da vaga promessa de que os países se unificariam no pós-guerra. Lord Craigavon, então Primeiro-ministro da Irlanda do Norte, sempre deixou claro que jamais trairia sua pátria se unindo aos britânicos. A região metropolitana de Belfast ficou ainda mais desprotegida depois que ele morreu, em novembro de 1940, uma vez que ele não tomou nenhuma medida para proteger a cidade de ataques aéreos durante os 19 anos em que ficou no cargo.

Desde 1939, os britânicos especialistas em defesa aérea já haviam descartado a crença popular de que Belfast ficava muito longe do alcance do esquadrão aéreo nazista – a Luftwaffe. Eles garantiram que os bombardeiros inimigos poderiam chegar à cidade em menos de 3 horas.

Quase duas semanas após a morte de Craigavon, uma aeronave alemã foi vista rondando a cidade. Era um sinal de agouro e morte.

Perigo no céu

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Era março de 1941 quando a Luftwaffe invadiu a cidade de Clydebank, na Escócia, e partes do centro de Glasgow. Foi só então que os ministros e John Andrew, sucessor de Craigavon, entenderam que Belfast estava na mira dos alemães. John McDermott, Ministro da Segurança Pública, previu com precisão que o bombardeio ocorreria entre 7 e 16 de abril.

Naquela época, Belfast era uma cidade altamente populosa, porém possuía a menor proporção de abrigos antiaéreos públicos – apenas 200 em todo o território –, sendo que a maioria ficava na área portuária. Foi estimado que cerca de 4 mil famílias tiveram que construir "abrigos Anderson" no quintal de suas casas, feitos com folhas de ferro galvanizado e cobertura de terra. No entanto, o luxo de possuir um abrigo como esse dependia apenas do nível socioeconômico de cada uma das famílias, portanto a maioria da população ficou à mercê das bombas.

Enquanto McDermott tentava evacuar o máximo de pessoas através do iniciava Plano Hiram, criado pelo Ministro do Interior Dawson Bates, os 6 membros do governo e o próprio Primeiro-ministro ameaçavam abandonar seus cargos por serem incapazes de lidar com a situação.

(Fonte: History of Sorts/Reprodução)(Fonte: History of Sorts/Reprodução)

Às pressas, o plano de evacuação não saiu como imaginado, pois menos de 4 mil mulheres e crianças conseguiram foram tiradas da cidade, sendo que restavam mais de 80 mil habitantes em situação de vulnerabilidade.

Na noite de 7 de abril de 1941, um esquadrão modesto de 6 bombardeiros Heinkel invadiu as docas de Belfast com bombas incendiárias e minas de paraquedas. Algumas áreas residenciais foram atingidas, porém apenas 13 pessoas morreram naquela noite. Mas, como ressaltou o jornalista britânico Robert Fiks, foi apenas uma “incursão exploratória” que só serviu para os alemães avisarem para os seus comandantes sobre as circunstâncias insuficientes de proteção de Belfast.

A guerra de Belfast

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Às 22h45 de 15 de abril de 1941, as sirenes de ataque aéreo soaram por toda a cidade, ao som dos motores dos aviões da Luftwaffe se aproximando. O alvo principal dos alemães foi a Central de Água de Belfast, que já havia sofrido danos durante o bombardeio na semana anterior, uma vez que a incapacidade de fazer a água fluir com grande pressão dos reservatórios permitiria que a cidade queimasse até os alicerces.

As usinas hidráulicas ao norte tiveram danos irreparáveis, e as bombas ceifaram a vida de centenas de pessoas. À medida que tudo explodia nos ares, os habitantes entraram em uma histeria para encontrarem os poucos abrigos que sobraram, sendo que muitos não resistiram a um impacto direto das bombas. As pessoas que não tinham para onde fugir voltaram para suas casas e se refugiaram sob mesas ou escadas, acabando soterradas pelos escombros.

(Fonte: History/Reprodução)(Fonte: History/Reprodução)

Em um Ulster Hall lotado, a cantora folk Deli Murphy continuou seu show mesmo quando as paredes do teatro começaram a estremecer com as explosões, assim como os violinistas tocaram até o último segundo do naufrágio do Titanic. Por um lado, a atitude da artista salvou dezenas de vidas, visto que o local era robusto e mais seguro do que as casas e muitos abrigos antiaéreos.

O Monastério Clonard, em Falls Road, desabou sobre 300 almas de religiosos protestantes que se abrigaram sob o "teto de Deus", que não foi páreo para a destruição nazista. Na região de New Lodge, no norte de Belfast, cidadãos correram para as fábricas na esperança de que os edifícios oferecessem proteção contra as bombas.

Às 4h, quando McDermott contatou o Ministro da Agricultura Basil Brooke, implorando por reforços, Belfast já era um inferno de chamas com aproximadamente 140 focos de incêndios, em uma nuvem de fumaça que escondeu os céus.

Escombros e cinzas

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Na manhã de 16 de abril, mais de 55 mil casas estavam destruídas, deixando 100 mil pessoas temporariamente desabrigadas. Cerca de 1.500 civis ficaram feridos, sendo 900 perderam suas vidas com o ataque aéreo noturno, que se tornou o maior bombardeio da História – e também o mais mortal.

Conduzida pelo governo nazista, a "Blitz de Belfast", como ficou conhecida, encheu todos os necrotérios da cidade, que só tinham estrutura para lidar com um total de 200 corpos por vez. Mais de 120 pessoas permaneceram sem identificação, e Falls Road e Peter’s Hill se tornaram necrotérios temporários com 150 cadáveres dentro de banheiras por até 3 dias até serem sepultados. Mais 255 corpos foram dispostos no Mercado de St. George, e de lá foram transportados para valas comuns no cemitério local de Miltown.

(Fonte: The Irish Times/Reprodução)(Fonte: The Irish Times/Reprodução)

O bombardeio resultou em um êxodo de 220 mil pessoas para o Condado de Fermanagh, a 120 km da cidade. O vilarejo de Dromara viu sua população aumentar de 500 para 2.500 pessoas. Muitos também se refugiaram em Bangor, Larne, Lisburn e Antrim na casa de amigos, parentes e até de estranhos.

Em 17 de abril, o The Irish Times enalteceu o trabalho unido do sul e do norte para aliviar o sofrimento daqueles que precisavam, apesar de suas diferenças políticas e crenças religiosas. "A humanidade não conhece fronteiras".

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: