Artes/cultura
15/07/2021 às 08:00•2 min de leitura
Ao longo dos séculos, diversas seitas cristãs com hábitos pra lá de curiosos surgiram no mundo. No século II, foi a vez dos adamistas, que tinham Adão e Eva como inpiradores. Eles seguiram tão ao pé da letra o casal original da Bíblia que praticavam o nudismo sagrado e chamavam sua igreja de Paraíso. Hoje em dia, porém, são vistos como os primeiros “hippies” da História.
A comparação não é tão infundada, afinal, os adamitas alegavam desconhecer o bem e o mal e rejeitavam o casamento. Dessa maneira, eram livres do pecado. Durante séculos, os adamitas se tornaram praticamente esquecidos dentro da religião e dos livros, mas voltaram aos holofotes por volta do século XV, nos arredores da Holanda, em plena Idade Média.
Na Boêmia, atual República Tcheca, os adamitas invadiam as cidades totalmente peladões para levar a palavra de Deus. Eles praticavam o amor livre, algo defendido pelos hippies da atualidade, e diziam que o casamento era um pecado. Nessa época, eles também queriam mudar a sociedade e acabar com o lance de servos e senhores, implementando a igualdade entre todas as pessoas.
Assembleia Noturna dos Adamistas (Fonte: Wikimedia Commons)
O frio ou o calor não eram problemas para os adamitas. Na maior parte de suas celebrações, eles dançavam nus ao redor de fogueiras. A castidade era combatida, afinal, os castos “não eram dignos de entrar no reino de Deus”. A nudez era vista como pureza e inocência, assim como era antes de Adão e Eva terem comido o tal fruto proibido.
Ao longo dos séculos, diversas pessoas descreveram os hábitos dos adamitas. O autor checo Lawrence de Brezová, do século 14-15, contou que as relações sexuais entre irmãos não eram um problema. Caso a mulher engravidasse dessa relação, ela teria sido concebida pelo Espírito Santo.
Já Enea Silvio Piccolomini, que viria se tornar o papa Pio II (1458 a 1464), chamou os adamistas de promíscuos. Ter amantes era permitido, desde que isso fosse aprovado pelo Adão da tribo, o homem mais velho e sábio.
Adamistas dançando pelados pelas ruas de Amsterdã, em pintura de François Morellon de la Cave (Fonte: Wikimedia Commons)
Obviamente, tanto radicalismo iria bater de frente com a Igreja Católica da Idade Média. Mesmo os taboritas, outro grupo cristão considerado herege na época, não concorda com os hábitos dos adamitas. Tanto que um confronto entre os seguidores das religiões, em 1421, acabou com os hippies expulsos da Boêmia. Os cerca de 300 seguidores não foram para muito longe e voltaram a sofrer com os taboritas.
Nos meses seguintes, os adamitas foram caçados e queimados vivos pelos tabonitas. Curiosamente, este outro grupo também foi visto como radical demais e perseguido por outros cristãos. Os adamistas que sobraram continuaram sendo vistos esporadicamente na região da Boêmia, até que sumiram completamente do radar.