Artes/cultura
02/08/2021 às 09:30•2 min de leitura
Em 1º de dezembro de 1955, após Rosa Parks, uma mulher negra norte-americana, ser presa por ter-se recusado a ceder seu lugar em um ônibus a um homem branco, os afro-americanos do estado do Alabama decidiram dizer "chega" à segregação nos meios de transporte do sul dos Estados Unidos.
Quatro dias depois do episódio com Parks, teve início o boicote aos ônibus de Montgomery com o objetivo de desafiar as estruturas desiguais que endossavam a supremacia branca. Para que a manifestação desse certo, os negros usaram uma arma improvável, mas extremamente útil a seu favor: os carros.
Conforme o livro Driving While Black, da escritora Gretchen Sorin, estima-se que cerca de 475 mil famílias afro-americanas tinham pelo menos 1 carro na década de 1950 — visto que muitos investiam em automóveis porque eram impedidos de comprar casas devido ao redlining e a outras políticas discriminatórias do país.
(Fonte: Raphael Nery/Reprodução)
Para que o protesto contra os ônibus desse certo, os organizadores da Montgomery Improvement Association sabiam que precisavam garantir uma maneira de os manifestantes boicotarem sem perderem seus meios de subsistência. Portanto, eles estabeleceram uma rede de serviço de táxi particular na cidade, uma espécie de Uber do século XX.
Para suprir a demanda dos 17 mil passageiros de ônibus que eram negros e pegavam o transporte 2 vezes ao dia, eles receberam 15 Kombi da Volkswagen doadas por igrejas negras e apoiadores do norte — porque eram mais difíceis de serem apreendidas do que os carros de propriedade privada.
(Fonte: Socialist Alternative/Reprodução)
Uma associação de agricultores negros alugou um estacionamento seguro para a frota por um preço barato, e um agente de seguros afro-americano financiou o seguro dos carros quando as seguradoras brancas se recusaram a participar do boicote.
Para custear o combustível e a manutenção dos veículos, as mulheres negras que trabalhavam como domésticas na casa de brancos viraram noites e fins de semana cozinhando para vender bolos e alimentos e erguer o dinheiro dos gastos. Elas vendiam para os brancos, principalmente, que não faziam ideia de que a compra ajudaria a financiar o boicote ao qual eles se opunham.
(Fonte: Flickriver/Reprodução)
Como medida para frear o boicote, o prefeito branco de Montgomery, W.A Gayle, fez acordos para que as pessoas brancas ficassem mais vigilantes em relação aos carros dos negros que davam caronas, instituindo políticas mais duras para qualquer infração de trânsito, real ou imaginária.
“É porque cada família estava desafiando a supremacia branca. Estava desafiando o status quo, a segregação. Embora fosse perigoso, também era corajoso”, ressaltou Sorin.
(Fonte: Flickr/Reprodução)
Após 11 meses de boicote, o prefeito impôs uma liminar alegando que a empresa de caronas era privada e operava sem autorização legal. Contudo, já era tarde demais para os segregacionistas, pois, no mesmo dia, a Suprema Corte dos EUA declarou inconstitucional a segregação de ônibus.
Um ano depois de Rosa Parks ter se recusado a ceder ao sistema, o boicote terminou em triunfo total porque os negros se uniram por uma causa maior, sabendo que as rodas daqueles ônibus passavam diariamente por cima deles quando pagavam a passagem para se sentar nos fundos.