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27/08/2021 às 02:00•3 min de leitura
No século XVI, o Império Espanhol representava a figura dos Estados Unidos (EUA) dos dias atuais, sendo a maior potência do mundo, dominando territórios na Itália e na França, bem como a faixa de terra entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo — que na época constituía os Países Baixos Espanhóis.
Em 1579, um conflito começou quando sete províncias ao norte dos Países Baixos fundaram a União de Utreque, trocando o catolicismo pelo pensamento de João Calvino e Martinho Lutero em meio à Reforma Protestante, chegando à conclusão de que não precisavam mais se submeterem à coroa espanhola. Então, não dispostos a abrirem mão da região, que era fundamental para as rotas de comércio na Europa, a guerra começou.
Rei Filipe II da Espanha. (Fonte: Preceden/Reprodução)
Em 1580, o Brasil acabou entrando para a guerra entre holandeses e espanhóis como um efeito colateral, quando o rei Filipe II da Espanha se aproveitou da instabilidade de poder em Portugal causada pela morte de D. Sebastião para anexar o país aos seus domínios, constituindo a União Ibérica.
Consequentemente, o açúcar refinado pelos holandeses nos engenhos do Brasil passou a pertencer aos inimigos. Como retaliação para tomar suas colônias dos espanhóis-portugueses, os holandeses montaram a Companhia das Índias Orientais — que serviu para abastecer os cofres da Holanda e controlar as posses portuguesas no Oriente — e a Companhia das Índias Ocidentais, cujo intuito era invadir as regiões produtoras de açúcar na América.
Em 1624, a Baía de Todos os Santos, em Salvador, foi tomada por dezenas de navios holandeses que ocuparam a cidade até o ano seguinte, quando uma esquadra luso-espanhola conseguiu expulsá-los com a ajuda da população local.
(Fonte: Escola Educação/Reprodução)
Cinco anos após isso, ao tomarem a cidade de Olinda, os holandeses deram início a um processo de guerra mortal, que é chamada de "Vietnã brasileiro" pelos historiadores. Em 24 anos de domínio estrangeiro, cerca de 16 anos foram puramente de batalhas.
Entre 1630 e 1637, a resistência local foi obrigada a abandonar Pernambuco sob a capacidade ofensiva dos holandeses, que passaram a controlar territórios entre o Ceará até a divisa de Alagoas e Sergipe.
Com a partida de João Maurício de Nassau, em 1644, o poder dos holandeses começou a definhar, visto que seus substitutos na Companhia das Índias Ocidentais não conseguiram controlar a crescente revolta dos habitantes locais contra o domínio estrangeiro. No ano seguinte, os descontentes com a queda do preço do açúcar, como também com as dívidas altíssimas e a certeza de que Portugal não retomaria a região, decidiram agir.
Eles organizaram um exército e encurralaram os holandeses na cidade de Recife, invertendo o curso da história holandesa no país em uma das batalhas chamada Monte das Tabocas, responsável por estabelecer a estratégia de guerrilha que foi fundamental na Guerra dos Guararapes.
(Fonte: Conhecimento Cinetífico/Reprodução)
Entre 18 e 19 de abril de 1648, no Morro dos Guararapes, Capitania de Pernambuco no Brasil Colônia, a primeira guerra terminou com vitória luso-brasileira, apesar de seu exército de 2,2 mil homens ter lutado corpo a corpo com 7,4 mil inimigos. Eles só tiveram vantagem porque os generais Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros souberam que os holandeses vindos do Recife teriam que passar pelo Morro dos Guararapes para chegar ao município de Muribeca.
Estima-se que 1,2 mil holandeses foram mortos, dos quais 180 eram oficiais e sargentos. Do lado luso-brasileiro, apenas 84 foram abatidos no combate que durou 5 horas e envolveu ingleses, franceses, poloneses, negros e, inclusive, índios tupis e tapuias.
(Fonte: Cultura Mix/Reprodução)
Sitiados no Recife, onde só podiam sair pelo mar, os holandeses tentaram escapar por terra na noite de 17 para 18 de fevereiro de 1649, com intuito de chegar a Guararapes para se posicionarem com vantagem no iminente confronto com as tropas luso-brasileiras. No entanto, mais uma vez a estratégia deles falhou quando se viram encurralados pelos soldados camuflados no morro.
O pânico gerou uma 2ª batalha naquele 19 de fevereiro, considerada ainda mais cruel e sangrenta. Mais de 2,5 mil homens holandeses morreram ou foram presos, além de mais de 500 feridos.
Com isso, os holandeses perceberam que não estavam lutando contra tropas portuguesas movidas a razões econômicas, mas sim pelo sentimento de patriotismo. Com a expulsão completa dos inimigos em 1654, a capitania de Pernambuco foi palco de vários movimentos pela independência da região nas décadas seguintes.
Em 1994, o ex-presidente Itamar Franco decretou que 18 de abril 1648 marcou o nascimento das Forças Armadas Brasileiras, e o uso da palavra "patriotismo" pela primeira vez na história.