Frankenstein: por que o monstro ganhou a cor verde nos filmes?

14/10/2021 às 02:003 min de leitura

Se você precisa imaginar o monstro de Frankenstein, como você monta a aparência da criatura na sua cabeça? É muito provável que algumas características se repitam: a altura, a cabeça quase em formato retangular, os parafusos na altura do pescoço e a tradicional pele na cor verde.

Apesar de essa ser a aparência tida como clássica do personagem, reproduzida com frequência em vários filmes e desenhos, a descrição não bate com o que foi escrito pela autora da obra original. No livro de Mary Shelley (1797-1851), lançado em 1818, ele até tem outra cor — e foi só ao longo dos anos que modificações transformaram radicalmente o visual do monstro.

O monstro original

A criatura sem nome, criada pelo doutor Victor Frankenstein em seu laboratório, é citada por Shelley como um homem de 2,4 metros. Ele tem cabelo escuro e dentes muito brancos que contrastam com seus lábios na cor preta.

Já a pele é amarelada e não há detalhes sobre a existência de cicatrizes ou costuras evidentes — muito menos os parafusos que, posteriormente, seriam adicionados ao visual para indicar por onde a eletricidade foi transportada na criatura.

Mary Shelley. (Fonte: Wikimedia Commons)Mary Shelley. (Fonte: Wikimedia Commons)

Aliás, o primeiro livro Frankenstein ou o Prometeu Moderno nem sequer entra nos detalhes científicos, sem explicar como o cientista realizou o experimento que deu vida ao monstro.

Essa abordagem da obra original, entretanto, não sobreviveu por muito tempo. Na adaptação teatral de Richard Brinsley Peake (1792–1847), por exemplo, o monstro ganhou uma pele azul clara ou acinzentada.

A criatura esverdeada

O maior problema em representar a tonalidade da criatura viria com o cinema: em filmes filmados e exibidos em preto e branco, como representar um indivíduo de pele tão peculiar?

O monstro do Edison Studios. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)O monstro do Edison Studios. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Na adaptação feita em 1910 pelo Edison Studios, de Thomas Edison (1847-1931), a criatura tem uma aparência mais descuidada, inclusive com cabelos desgrenhados — mas sem alterações no tom de pele.

Foi só em 1931 que essa característica se estabeleceu, graças ao longa-metragem Frankenstein lançado pela Universal. Dirigido por James Whale (1889-1957), o filme apresenta Boris Karloff (1887-1969) no papel do monstro pela primeira de muitas vezes.

Karloff durante o longo processo de maquiagem para Frankenstein.Karloff durante o longo processo de maquiagem para Frankenstein.

Entre a equipe técnica, o responsável pelo figurino do monstro foi Jack Pierce (1889-1968), que trabalhou em outras películas de horror do estúdio. Pierce criou o visual que foi imortalizado, com o formato retangular e os parafusos.

A cor verde foi adotada por motivos práticos: no filme em preto e branco, tons de verde se transformavam em uma tonalidade pálida, quase cadavérica, que dava um ar assustador ao personagem e o diferenciava dos demais atores.

Os pôsteres da franquia com a cor verde já oficializada. (Fonte: Universal Studios)Os pôsteres da franquia com a cor verde já oficializada. (Fonte: Universal Studios/Reprodução)

A maquiagem foi reproduzida em pôsteres de divulgação da obra e, ao longo dos anos e das sequências, virou parte integral da criatura. O terceiro filme da franquia, O Filho de Frankenstein (1939), quase foi rodado em cores — e um teste de maquiagem com Karloff com o rosto esverdeado pode ser visto no YouTube.

Até o Frank, personagem da Turma da Mônica que homenageia a criatura de Shelley, traz o visual clássico do monstro da Universal.Até o Frank, personagem da Turma da Mônica, homenageia a criatura de pele verde. (Fonte: Mauricio de Souza Produções/Reprodução)

A Universal foi a detentora dos direitos do personagem por décadas, embora outros estúdios tenham lançado as suas próprias versões com modificações.

É o caso de A Maldição de Frankenstein, de 1957, que apresenta o ator Christopher Lee (1922-2015) interpretando uma versão da criatura com a pele mais pálida e ferida.

O Frankestein de Lee.O Frankenstein de Lee. (Fonte: Hammer Films/Reprodução)

O sucesso dos filmes da Universal, a boa ideia de Pierce adaptada para os filmes coloridos e, posteriormente, a adição do personagem em outros inúmeros produtos culturais fizeram com que a cor verde fosse imortalizada no monstro.

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