Estilo de vida
25/10/2021 às 10:00•3 min de leitura
Falar sobre gentrificação é "pisar em um campo minado" de pura controvérsia. Etimologicamente, o termo é um neologismo de gentry, que significa "de origem nobre" ou "bem-nascido" em tradução livre.
O processo transforma uma área urbana periférica específica de uma cidade, que não recebe mais nenhum investimento público, por meio de especulação imobiliária, aumentando o turismo e as obras governamentais.
A gentrificação acontece quando há a descentralização de uma cidade, ou seja, as áreas centrais e bairros desenvolvidos — geralmente em metrópoles — se expandem para outras regiões ocupadas por pessoas de baixa renda há anos por meio de invasões ou ocupações irregulares.
(Fonte: WRI Brasil/Reprodução)
Desse modo, acontece um processo de modernização desses espaços, como abrir uma nova estação de metrô ou instalar um estádio de futebol, desvalorizando essas regiões tempo o suficiente para atrair moradores e comerciantes com mais renda.
A gentrificação causa o aumento do custo de vida e tem o poder de alterar a cultura de uma comunidade inteira, até dificultando o ajuste dos residentes de longa data, bem como expulsando os negócios pertencentes a minorias.
Os vieses sociais da gentrificação são diversos, pois o processo também é visto como uma oportunidade de investimento necessário para áreas há muito negligenciadas, ao passo que pode apagar e expulsar as pessoas que não pertencem à mesma realidade. Estas tendem a ir morar em locais ainda mais afastados e piores do que onde estavam.
(Fonte: The Guardian/Reprodução)
Quando o assunto surge em um debate, muitas pessoas tendem a confundir gentrificação com revitalização, esta visa a melhoria da qualidade de vida de uma população local, com o princípio de mantê-los ali, e não os expulsar.
Via de regra, a revitalização pode acabar gerando a gentrificação devido à modernização de uma área, culminando no fator-chave para mudar toda a situação socioeconômica e cultural de um local: a especulação imobiliária.
(Fonte: The New York Times/Reprodução)
Engana-se quem acredita que a gentrificação é a responsável por reduzir as taxas de criminalidade urbana. Afinal, essas pessoas pensam por esta lógica simples: o influxo de residentes mais ricos que precisam ser “escoltados” gera mais patrulhamento do governo, afastando criminosos das cercanias.
Porém, na verdade, é o contrário. A gentrificação leva ao aumento do crime, visto que estudos apontam que roubos e furtos crescem em bairros onde existem pessoas mais nobres. A primeira explicação para isso pode ser pelos novos residentes serem alvos mais interessantes para os ladrões, induzindo-os a se envolverem em atos ainda mais ilegais ou que o crime prospera com base na instabilidade, no anonimato e nos laços sociais mais fracos, tornando mais fácil para os criminosos se misturarem aos demais e sendo menos provável que os vizinhos protejam uns aos outros.
(Fonte: ArchDaily/Reprodução)
Nem todo mundo que mora em uma região sabe o que está acontecendo quando uma gentrificação está em andamento. A maioria acredita que aquelas mudanças e os investimentos “repentinos” transformarão sua vida apenas para melhor — embora, em muitos aspectos, isso acontece mesmo.
A modernização do local onde vivem pode aumentar o valor de seu imóvel no mercado, e eles também podem se beneficiar das atividades de varejo que trazem mais serviços para áreas abandonadas, permitindo que essas pessoas não tenham mais que ir para muito longe para desfrutar de um simples fast-food, por exemplo.
Boa parte da população endereça à inflação e à inconsistência econômica do país quando aumenta o aluguel da região onde moram ou quando não conseguem mais bancar o novo estilo de vida implantado pelas reformas.
(Fonte: Crosscut/Reprodução)
É essa a ideia que a socióloga Sylvie Tissot discute sobre esse processo social. A gentrificação atua por meio de um efeito dominó quando começa. Os gentrificadores não dependem apenas do mercado para fazer as mudanças, eles mesmos acabam trabalhando para mudar a área mais a seu gosto — e isso pode significar denunciar comércios locais para as autoridades.
Muitas pessoas acabam preferindo que caia um bar decadente de um dono que nem sequer renova, para que uma vitrine do Starbucks ganhe espaço na rua. Isso, por exemplo, acontece no Harlem desde a década de 1970, com moradores tentando estabilizar a própria comunidade para atrair proprietários e varejistas de classe média para a região.
Ainda que seja um processo "cutucado" por legisladores e órgãos governamentais, as pessoas, consequentemente, acabam empurrando uma comunidade inteira em direção a essa mudança — ainda que de maneira involuntária.