Artes/cultura
07/11/2021 às 10:00•2 min de leitura
Desde 1982, com o surgimento de Tron — Uma Odisseia Eletrônica, a indústria cinematográfica de Hollywood vem impressionando os telespectadores com os famosos efeitos de computação gráfica, provando conseguir criar literalmente qualquer coisa através dos recursos digitais. Os efeitos práticos, no entanto, são aqueles que utilizam objetos cenográficos e que ainda são empregados em larga escala, principalmente nos filmes de terror do subgênero slasher, encarregados de deixar as cenas o mais realista possível.
Para quem não conhece, o slasher é um subgênero do terror que normalmente envolve um assassino psicopata como antagonista — às vezes usando máscaras —, que passa a caçar vítimas com o único propósito de violentá-las brutalmente. Essa categoria que se destaca por garantir choques visuais motivados pela agressividade extrema teve origem em 1974, com o lançamento do suspense Black Christmas, mas atingiu seu ápice com O Massacre da Serra Elétrica (1974) e com as franquias Halloween, Sexta-Feira 13 e Hora do Pesadelo, todos da década de 1980.
Esses filmes, diferentemente dos terrores sobrenaturais ou de monstros, se destacam pela quase total ausência de efeitos digitais. Para isso, a produção conta com todo tipo de adereço na encenação das cenas mais violentas, como facas, serras, garras, ferramentas, mecanismos e, obviamente, o tradicional "ketchup" cenográfico, embalado em bolsas de sangue estrategicamente localizadas para estourar no momento do golpe.
Para evitar problemas e tragédias no set de filmagens, o elenco de Pânico (1996), por exemplo, teve à disposição facas dobráveis que têm suas propriedades retráteis quase imperceptíveis devido ao jogo de câmeras e aos inúmeros cortes de filmagem aos quais são submetidas. Dessa forma, além de não ser possível identificar o momento exato em que elas dobram ao acertar uma vítima, também é quase impossível ver um dispositivo de sangue acoplado nos itens, projetado para liberar a tinta vermelha na hora do corte.
(Fonte: Vox/Reprodução)
E por falar em sangue, as misturas devem ser tão convincentes quanto as atuações e, para isso, elas contam com várias técnicas que utilizam canos e tubos para "sangrar" em uma quantidade proporcional à fatalidade, sem parecer exagerado ou suave demais. No filme A Morte do Demônio (2013), por exemplo, foram necessários 70 mil galões de sangue falso para incorporar as inúmeras cenas de violência, forçando os criadores a caprichar em uma receita que se ajustasse a todos os momentos.
Ao lado dos efeitos práticos, a maquiagem é uma operação imprescindível nos filmes slasher, para causar a sensação de veracidade. Como os assassinos realizam todo tipo de brutalidade com suas vítimas, o público deve naturalmente se apavorar com corpos partidos ao meio, cabeças decepadas, partes mutiladas e outros tipos de violência. Dessa forma, a maquiagem segue como evento sequencial ao efeito prático, coexistindo de acordo com a intensidade do ataque.
(Fonte: Warner/Reprodução)
"Se está atingindo uma artéria, é como se estivesse pulsando para fora. Então você tem alguém fora das câmeras trabalhando com a bomba e a pressão", disse o artista visual Eric Hart em entrevista ao Vox.
Filmes slasher, atualmente, contam com várias sequências, reboots e derivados, e para manter seus sucessos nos cinemas e TVs é preciso garantir não apenas um certo status de nostalgia, mas também de originalidade e de trabalho conjunto da equipe técnica por trás das câmeras. E, de todo jeito, como a base de fãs dessas obras é enorme, até mesmo a previsibilidade surge como elemento convidativo, pois boa parte do público deseja apenas continuar vendo os vilões ainda mais agressivos e impiedosos espalhando sangue pelas telas.