Estilo de vida
30/11/2021 às 10:30•2 min de leitura
Com uma carreira que durou somente uma década, entre 1960 e 1970 os Beatles deixaram uma discografia longa, plural e histórica, composta de 13 álbuns de estúdio, além de longas-metragens de ficção e incontáveis horas de registros documentais. Porém, John, Paul, George e Ringo também deixaram vários projetos engavetados, alguns deles sem nem chegar a passar do campo das ideias.
Um dos projetos mais famosos seria uma adaptação do clássico O Senhor dos Anéis, obra literária de sucesso do escritor J.R.R. Tolkien, mas que, como bem sabemos, não aconteceu.
Em 1968, o cineasta Denis O'Dell produziu Um Beatle no Paraíso, filme de comédia estrelando Peter Sellers e o baterista dos Beatles, Ringo Starr. Animado em trabalhar com um Beatle e querendo adaptar a já bem-sucedida trilogia de fantasia, ele enviou uma cópia de O Senhor dos Anéis aos músicos, que naquele período estavam em um retiro espiritual na Índia.
Os Beatles na Índia.
Aqui, os relatos começam a ficar difusos: aparentemente, apenas Ringo não leu o épico literário, enquanto os demais gostaram da obra e ficaram empolgados em participar de uma eventual adaptação.
Embora isso nunca tenha sido sequer ensaiado, os quatro teriam papéis de destaque: Paul seria Frodo e dividiria o protagonismo com Ringo, escalado como Sam. George Harrison seria o mago Gandalf, enquanto John Lennon viveria Gollum.
Ringo e Sellers.
Para dirigir um projeto tão ousado, Stanley Kubrick (diretor de clássicos como 2001: Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica e O Iluminado) chegou a ser considerado.
A ideia parece maluca e, por décadas, foi tratada quase como uma lenda urbana. Entretanto, o projeto de fato existiu, descartado ainda em fases bastante iniciais de negociação.
Quem confirma isso é Peter Jackson, que tem uma conexão com os dois lados: ele não apenas dirigiu os filmes da trilogia que conhecemos, como também restaurou materiais da banda para Get Back, um documentário em três partes exibido pela Disney+ que mostra alguns dos últimos ensaios da banda antes da dissolução.
Peter Jackson, já como diretor da trilogia, ao lado de Hugo Weaving (Elrond) e Ian McKellen (Gandalf).
Em entrevista para a BBC, Jackson conta que conversou bastante com Paul e Ringo durante a remasterização dos materiais para entender exatamente o que aconteceu com a adaptação, que acabou em suas mãos décadas depois.
“No fim das contas, eles não conseguiram os direitos do Tolkien, porque ele não gostou da ideia de um grupo de música fazendo a história. Então, foi rejeitado por ele. Eles tentaram fazer, não há dúvidas sobre isso. Por algum momento no tempo, eles estavam seriamente contemplando a ideia de fazer isso no começo de 1968”, explica o diretor. Dois anos depois, a banda anunciou a separação.
O cineasta ainda conta que os sentimentos são mistos: apesar de lamentar que um projeto que envolveria a atuação e possivelmente trilha sonora do quarteto de Liverpool nunca tenha visto a luz do dia, Jackson celebra que a adaptação não tenha ocorrido e que ele tenha virado o diretor da premiada trilogia e, posteriormente, O Hobbit.
Atualmente, uma série baseada no universo de Tolkien está em produção pela Amazon — sem contar a curiosa adaptação soviética que foi recentemente descoberta e publicada no YouTube.