Estilo de vida
05/12/2021 às 09:00•2 min de leitura
Não tem como falar sobre o berço da civilização chinesa sem mencionar as províncias de Shaanxi e Shanxi, na China Central. A região da capital florescente de Shaanxi que serviu como sede da administração imperial para 13 dinastias ao longo da História, também recebeu comunidades neolíticas que adotaram a agricultura pela primeira vez há 600 mil anos. Na Idade Média, a capital ficou conhecida como uma das maiores metrópoles do mundo.
Até hoje, a área contém artefatos e monumentos históricos, como o Pagode do Grande Ganso Selvagem, em Dayanta, e o Exército de Terracota de Qin Shi Huang: uma coleção de guerreiros em tamanho real em plena formação de batalha, feitos para guardar para sempre a tumba do imperador Qin.
Apesar de todo o poder histórico das províncias de Shaanxi e Shanxi, elas não foram páreas para a implacabilidade da natureza.
(Fonte: Alchetron/Reprodução)
Tudo começou em 23 de janeiro de 1556, quando um terremoto se revelou uma das maiores catástrofes sísmicas já registradas, responsável por uma cadeia de eventos descontrolada, com incêndios, fissuras no solo e deslizamentos de terra que só potencializaram o nível de mortos.
Os historiadores concordam que cerca de 830 mil pessoas morreram naquele dia, que ficou conhecido como “o dia mais mortal de todos os tempos”. Para fazer uma comparação, a Guerra Civil Americana, considerado um dos conflitos mais sangrentos dos Estados Unidos, demorou 4 anos para atingir a marca de 750 mil vítimas.
Imperador Jiajing. (Fonte: Sunnews/Reprodução)
Além disso, a magnitude do terremoto foi tão grande que o tremor durou apenas alguns segundos, deixando para que sua força fizesse o verdadeiro trabalho de destruição. Apesar de o Grande Terremoto de Valdivia, no Chile, em 1960, ser considerado até então o de maior índice na Escala Richter, seu rastro de destruição não chega perto do Terremoto de Jiajing — como foi chamado o desastre, referência ao então imperador.
O nome de Jiajing foi atribuído ao desastre porque, corrupto e burocrata como era, se preparar para terremotos foi a última coisa que ele pensou quando fez de tudo para que as províncias de Shaanxi e Shanxi ficassem superpopulosas.
(Fonte: Wildfires/Reprodução)
A destruição do terremoto, potencializada pela negligência do imperador, atingiu de 320 a 400 quilômetros de distância a partir de seu epicentro perto de Huaxian, no Vale do Rio Weihe. Dos 26 tremores descritos em registros oficiais da China, todos tiveram a bacia do Rio Weihe como o ponto de partida.
As áreas metropolitanas localizadas perto da bacia do rio perderam metade de sua população durante o terremoto, sendo que as províncias de Shaanxi e Shanxi tiveram uma baixa de 60% de seus habitantes.
Estima-se que um terço das vítimas foram consequências diretas do abalo, incluindo inundações e incêndios. Quanto aos outros dois terços, eles morreram de fome devido ao caminho de destruição do evento, que deixou as pessoas sem meios de subsistência.
Em meio ao grande número de mortos, também houve a perda dos recursos naturais, como o Pagode do Pequeno Ganso Selvagem, construído entre 707 e 710 d.C. durante a Dinastia Tang. Vários artefatos históricos foram totalmente destruídos ou perdidos durante o desastre, causando um empobrecimento do patrimônio cultural local.
(Fonte: Pluska/Reprodução)
O evento motivou a busca por construções melhores e à prova de abalos, como aquelas feitas de madeira e bambu, que se tornou a estrutura predominante nessa era anti-terremotos.
Apesar da lição que o terremoto ensinou, muitas pessoas vivem até hoje em casas das cavernas (Yaodongs em chinês), devido à falta de opções de moradia, ainda que sejam consideradas uma revolução por sua acessibilidade, eficiência energética e conversão estratégica da terra (ela permite que a terra arável permaneça livre de estruturas acima do solo).
Naquela época, o império chinês lutou contra muitas questões, incluindo a desumanidade do reinado do imperador, a deterioração das fronteiras da nação sob a ameaça de nômades da Mongólia e diversos outros problemas. O desastre sísmico também enfraqueceu a soberania da Dinastia Ming e o empobrecimento do Tesouro Imperial.