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16/12/2021 às 10:00•2 min de leitura
A física explica que o mar é azul porque a energia luminosa de algumas cores é absorvida pelo oceano mais perto da superfície do que a energia de outras cores, funcionando como uma espécie de filtro da luz solar. Quando a luz é absorvida, sua energia é transformada em calor.
Ainda que essa explicação seja algo “recente” na História, a percepção do azul sempre foi algo considerado óbvio — a menos que você seja daltônico —, mas William Gladstone (1809-1898), quatro vezes o primeiro-ministro britânico do final do século XIX, descobriu que os povos da antiguidade não enxergavam o azul.
William Gladstone. (Fonte: Instituto de Humanidades/Reprodução)
Antes de ingressar na política, Gladstone era obcecado pela Odisseia de Homero, que segue a história do herói grego Odisseu em sua jornada para casa após a queda de Troia. O político fez questão de estudar o poema épico do século VIII a.C. sem parar, até que percebesse algo insólito: o azul nunca foi mencionado. Mas como, sendo que a maior parte da jornada do personagem acontece em alto-mar?
Gladstone pensou, a princípio, que Homero fosse daltônico, mas acabou percebendo que a Odisseia não era a única história grega que apresentava a mesma anomalia. Portanto, ele passou a cogitar a possibilidade de que talvez todos os escritores gregos fossem daltônicos, porém esse também não foi o caso — ainda que ele tenha permanecido com a ideia.
(Fonte: The Conversation/Reprodução)
Mais de 10 anos depois de sua descoberta, o filólogo Lazarus Geiger (1829-1870) mostrou que os gregos não eram os únicos que não enxergavam o azul, porque as histórias islandesas, antigas sagas chinesas e até mesmo a bíblia hebraica original não continha nenhuma menção ao azul. Ele também mostrou que as cores aparecem na mesma ordem em quase todos os idiomas: preto e branco; depois vermelho, amarelo ou verde; e enfim o azul.
O que aconteceu é que a divisão entre as cores nos tempos antigos era muito mais ampla, ou seja, as descrições de Homero, como “um mar escuro como vinho”, não eram apenas liberdades criativas, mas sim, uma abrangência de cores.
Por exemplo, no russo, não existe um único termo para o azul. O que os norte-americanos e brasileiros consideram diferentes tons da mesma cor, como azul-escuro e claro, são duas cores e palavras distintas em russo.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Guy Deutscher, autor de Through the Language Glass: Why the World Looks Different in Other Languages, escreve que o motivo pelo qual existe essa falta de distinção entre as cores seja porque o azul simplesmente não é uma cor que aparece com frequência na natureza, então nós não precisávamos de uma palavra para isso. A única civilização antiga que tinham uma palavra distinta para o azul era os egípcios, que já faziam o uso de tintas azuis.
Em um experimento com sua filha, Deutscher conta em seu livro que ensinou as cores, mas nunca mencionou a cor do céu como azul. Quando julgou que ela estava pronta, ele perguntou qual era a cor do céu, mas ela não soube responder. Levou 4 meses para que ela chegasse a uma resposta: o céu era branco. Um mês depois, sua filha disse finalmente que o céu é azul, embora hesitasse ainda sobre o branco ou azul quando era indagada. Levou mais 6 meses para que ela começasse a reconhecer os azuis com seriedade.
Para isso, Geiger teve uma resposta lá atrás: “Toda a cadeia de desenvolvimento de cada uma de nossas ideias, até sua forma mais primitiva, está enterrada diante de nós em palavras, aguardando sua escavação pela ciência linguística”.