Operação Gladio: as redes espiãs que queriam inibir o comunismo

14/01/2022 às 06:303 min de leitura

Nascidas no período da Segunda Guerra Mundial, as operações stay-behind ("ficar para atrás", em tradução livre) foram redes de organizações secretas e clandestinas ligadas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), implantadas em 16 países da Europa Ocidental durante os prósperos tempos da Guerra Fria.

O objetivo dessas células era deter, em qualquer país, um indício da "ameaça comunista", montando uma rede de exércitos secretos de guerrilha, sustentada, em muitos casos, com violência por parte dos extremistas de direita para atingir seu propósito. 

Coordenadas pela Otan, pela Agência Central de Inteligência (CIA) e o Serviço Secreto de Inteligência Britânico (SIS), essas redes foram financiadas, armadas e treinadas em atividades secretas de resistência, incluindo assassinato, provocação política e desinformação; prontas para serem ativadas em caso de invasão pelas forças do Pacto de Varsóvia. Nisso, a rede italiana Operação Gladio se tornou uma das mais famosas.

A trama

(Fonte: Sputnik News/Reprodução)(Fonte: Sputnik News/Reprodução)

A princípio, a Gladio foi formada a partir das Unidades Auxiliares Britânicas pelo medo de uma invasão alemã, forçando o SIS a treinar grupos de pessoas em toda a Grã-Bretanha, conhecidos como Unidades Auxiliares, como um movimento de resistência — isso tudo durante a Segunda Guerra Mundial.

Nenhum desses homens eram soldados regulares, apenas civis altamente treinados, mas sem uma estrutura psicológica nem habilidades necessárias. Além disso, eles não eram pagos e não usavam uniforme oficial. O objetivo deles era perseguir uma força de ocupação por trás das linhas mesmo depois de uma rendição oficial.

Essa foi a primeira vez que um governo tentou estabelecer uma rede guerrilheira pré-organizada. E, visto que os alemães nunca invadiram a Grã-Bretanha, o sucesso da operação foi contestado.

Então, elas foram ressignificadas com o Tratado de Bruxelas de 1948, que criou o Comitê de Planejamento Clandestino (CPRC) e, depois, a Otan, com o Quartel-General Supremo das Potências Aliadas na EUROPA (SHAPE). Foi por meio dessa rede que os Estados membros da Otan organizaram as stay behind.

(Fonte: All That's Interesting/Reprodução)(Fonte: All That's Interesting/Reprodução)

No final dos anos de 1960, a CIA já estava financiando secretamente dezenas de redes de agentes espiões em 13 países da Europa Ocidental, incluindo a neutra Suécia.

Durante toda a Operação Gladio, a CIA se afiliou ao Vaticano, usando suas fontes para coletar informações não apenas sobre a Itália, mas também sobre os países atrás da Cortina de Ferro, como a Polônia e a Ucrânia. O cardeal Domenico Tardini, um dos principais assessores do Papa Pio XXII e chefe das Relações Exteriores da Secretaria de Estados do Vaticano, foi uma das principais fontes dos americanos.

Além disso, a Operação Gladio canalizou muito dinheiro por meio do Banco do Vaticano (IOR), pelo fato de que a instituição não mantinha nenhum registro ou rastro de papel de qualquer natureza. Foi assim que a CIA "despejou" mais de US$ 65 milhões de seu dinheiro clandestino no Banco do Vaticano. 

Máfia das armas

(Fonte: Tumblr/Reprodução)(Fonte: Tumblr/Reprodução)

A falta de fiscalização em todas as esferas possibilitou que a Operação Gladio armasse muito bem seus exércitos espiões, deixando-os prontos para o ataque. De acordo com uma matéria da Associated Press, estoques de armas e explosivos foram escondidos em toda a Europa Ocidental entre 1950 e 1990 para os agentes das stay behind. Na Grécia, armas e munições foram encontradas enterradas anos depois que a rede foi desmantelada.

O perigo é que nem todos os depósitos secretos foram encontrados. Só na Itália, 12 deles ficaram desaparecidos, como aponta um documento desclassificado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos. Os esconderijos italianos continham munições, explosivos, granadas de mão, facas e punhais, morteiros de 60 mm, vários rifles sem recuo de 57 mm, rifles de precisão, transmissores de rádio, binóculo e várias ferramentas. Tudo que pode ter caído em mãos erradas.

Foi só em 1990 que a rede começou a cair, quando o Parlamento Europeu aprovou uma resolução alegando que alguns serviços secretos militares estavam envolvidos em crimes graves e terrorismo. A resolução também instava a investigação por parte dos judiciários dos países onde esses exércitos operavam para que o modus operandi de toda a organização fosse exposta.

Até o momento, apenas Itália, Suíça e Bélgica realizaram inquéritos parlamentares sobre o assunto.

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