Trinity: o teste da bomba atômica que matou dezenas nos EUA

04/04/2022 às 09:002 min de leitura

Essa história você provavelmente já conhece: em agosto de 1945, o exército dos EUA lançaram duas bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, deixando um rastro enorme de destruição, matando milhares de pessoas e colocando um ponto final à Segunda Guerra Mundial. 

O que muitos não sabem é que, antes disso, os norte-americanos também soltaram as temidas bombas em seu próprio território. O objetivo não era atingir alvos, destruir coisas, muito menos matar pessoas inocentes, mas, sim, fazer um teste. Mesmo assim, essas coisas horríveis acabaram acontecendo nos vilarejos próximos ao local do teste "Trinity".

O caos na manhã de 16 de julho

Os militares envolvidos no "projeto Manhattan", que criou a bomba atômica, precisavam de um local para fazer uma detonação de teste — e observar a real dimensão da arma que criaram. O local precisava ser no próprio território dos EUA, mas distante de tudo, para não gerar nenhuma destruição, nem "estragar o segredo".

Entre opções na Califórnia, Texas e Novo México, eles acabaram se decidindo por este último estado, marcando o teste para julho de 1945, em meio ao deserto de "Jornada del Muerto". Ali não havia nenhuma cidade... Porém, a alguns quilômetros, existiam alguns vilarejos rurais, com famílias que viviam das próprias plantações e animais. 

Essas poucas famílias foram pegas completamente de surpresa por um estouro ensurdecedor, um clarão mais forte que o sol e muita fumaça nos céus. Era o começo da manhã de 16 de julho de 1945. Nos dias seguintes, uma substância branca começou a cair — teve quem achasse que era neve, mesmo o local sendo muito quente. Mas era cinza radioativa.

Sem qualquer aviso ou evacuação

Ao contrário das pessoas em Hiroshima e Nagasaki, que foram dizimadas instantaneamente pelo impacto colossal da bomba atômica, os atingidos pelo teste Trinity levaram décadas para saber o que estava matando suas famílias. 

Isso porque eles nunca foram evacuados nem ao menos comunicados sobre o que tinha ocorrido na região. Havia preocupação de que o projeto da bomba atômica acabasse "vazando" para os adversários dos Estados Unidos — e este era o maior trunfo do país, na guerra. Então, a história oficial era de que um depósito de munições havia explodido.

Porém, a enorme bomba era a responsável por chamas 10 mil vezes mais quentes que o sol, uma nuvem de fumaça com 20 km de altura e uma onda de choque que quebrou janelas até 150 km do local da explosão. Os relatórios do teste Trinity afirmam que apenas 1,2 dos 6 kg de plutônio na bomba sofreu fissão — o restante se dispersou em cinzas pelo ambiente.

Mesmo com o perigo de contaminação, os moradores da região do teste Trinity continuaram vivendo normalmente: consumiram a mesma água das cisternas, mataram os mesmos animais e colheram das mesmas plantações cobertas de partículas radioativas.  

A morte lenta de famílias inteiras

Apesar da negligência do governo em não avisar sobre o teste e inventar histórias, a verdade é que mesmo a ciência não tinha noção dos efeitos em longo prazo da radiação no organismo. Por isso, também não houve tanto acompanhamento para os atingidos pelo teste.

Contudo, nos anos e décadas seguintes, as consequências foram muito claras. A incidência de câncer nos moradores da região é extremamente maior, com famílias inteiras dizimadas por ele desde então. Genoveva Purcella contou à rede britânica BBC que seu pai e sua mãe morreram de câncer cerca de dez anos depois do teste Trinity, assim como oito de seus nove irmãos, nas décadas seguintes. Ela própria teve um câncer de mama, mas conseguiu se tratar.

Outra mulher entrevistada pela reportagem conta que sobreviveu a um tumor na tireoide, mas viu seu pai, sua mãe, uma irmã, duas tias e um primo enfrentarem algum tipo de câncer. 

Foi só nos anos 2000 é que as extensões do dano causado pelo teste Trinity começaram ser notadas pela mídia e pelas autoridades. Até hoje, as famílias dessa região não foram incluídas no programa de compensação, que indenizou mais de 45 mil pessoas envolvidas em testes e fabricação de bombas nucleares. São as vítimas mais desconhecidas dessa arma.

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