Ciência
11/04/2022 às 10:00•2 min de leitura
Talvez, você já tenha observado que o gato é um dos ícones mais marcantes da cultura do Antigo Egito. Não faltam artefatos com temas relacionados a esses felinos, de joias intricadas a estátuas. Aliás, graças à adoração aos gatos é que os antigos egípcios criaram o primeiro cemitério de animais de que se tem notícia. Com quase 2 mil anos, ele abriga em sua grande parte gatos adornados com contas e coleiras de ferro.
Mas por que o gato egípcio era tão valorizado? Por que, conforme disse o antigo historiador grego Heródoto, os egípcios raspavam as sobrancelhas como sinal de luto e respeito ao lamentar a perda de um gato da família?
(Fonte: Shutterstock/ Reprodução)
Historiadores e arqueólogos acreditam que os seres humanos começaram a se envolver com esses animais no Antigo Egito a partir de 4.000 a.C., visto que as primeiras pinturas e hieróglifos a respeito datam dessa época.
É muito provável que os primeiros gatos a se relacionarem com os egípcios fossem de uma das duas espécies selvagens que existiam na região naquele tempo: o gato-selvagem-africano e o gato-da-selva.
(Fonte: Shutterstock/ Reprodução)
Um fato interessante sobre a relação dos antigos egípcios com os gatos é que, embora conhecessem mais de uma espécie, eles possuíam apenas uma única palavra para o felino, mil ou miit, que significa literalmente ele ou ela que mia.
Mas ao contrário do que boa parte das pessoas pode pensar, o gato egípcio começou a fazer parte da cultura daquele povo mais por razões práticas do que religiosas: o desenvolvimento da agricultura e, por consequência, o armazenamento de grãos atraiu roedores que, por sua vez, chamaram atenção dos gatos selvagens.
Logo, nada mais natural do que os humanos desenvolverem afeição e buscarem proteger essas criaturas que os ajudavam a manter os celeiros e campos livres de ratos e outros bichos parecidos.
Evidências arqueológicas apontam que os felinos tinham vários papéis naquela época. Por exemplo, há representações antigas dos gatos protegendo as famílias de seus donos contra cobras venenosas e roedores, sendo mimados ou retratados como ajudantes para caçadores de pássaros.
Alguns animais até foram enterrados com oferendas, o que sugere que alguém estava planejando a vida após a morte do animal.
Com o passar do tempo, o gato egípcio começou a ter um impacto significativo na religião, apesar de sua adição ao panteão de deuses ser relativamente tardia, de entre 2.000 a.C. e 1.000 a.C.
A representação mais antiga de um ser semelhante a um felino na religião egípcia é do peludo Mafdet — uma divindade parecida com o gato (às vezes identificada com um guepardo, ou chita) e associada à execução e justiça.
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Para os estudiosos do Antigo Egito, as pessoas daquele tempo começaram a atribuir características divinas aos gatos de forma gradual.
O jeito quase sobrenatural, sua discrição e a capacidade de enxergar bem durante a noite tornaram esses felinos altamente admirados, sendo que essas características podem ter contribuído para a ideia de que havia algo de sagrado neles.
Além disso, a mania dos gatos de tirar um cochilo ao sol levou as primeiras associações entre o animal e Rá, o deus solar.
Posterior a Mafdet surgiu Sekhmet, ou Sacmis, uma divindade com reputação de ser feroz, mas uma grande protetora dos animais e frequentemente ligada às leoas.
Já Bastet, outra divindade venerada pelos antigos egípcios, é provavelmente a deusa com cabeça de gato mais famosa. Associada ao lar, à feminilidade e à fertilidade, Bastet surge no panteão dos deuses como um ser mais moderado e racional que seus antecessores felinos.
Contudo, a relação do gato com a sociedade do Antigo Egito nem sempre foi algo bom. Algumas pesquisas sugerem um lado obscuro nessa história: o surgimento de uma indústria paralela para a criação de milhões de gatos que, posteriormente, seriam mortos e mumificados para que pessoas pudessem ser enterradas com eles.