Ciência
12/07/2022 às 02:00•2 min de leitura
A batata frita é um dos mais deliciosos lanches que se tem conhecimento e sua criação é tema de intensa disputa na Europa. Nativa da América do Sul, na região que percorre a Cordilheira dos Andes, a batata foi produzida e consumida por todas as populações nativas da região por mais de 8 mil anos.
Sua chegada à Europa aconteceu durante as Grandes Navegações e foi fundamental à transformação do alimento. Quase todas as nações europeias desenvolveram um prato típico que usa a batata, mas a versão frita, ao que tudo indica, vive dividida entre franceses e belgas. A vantagem é francesa, mas a história é longa.
(Fonte: Home Frit’ Home/Reprodução)
Pode soar como bobagem, mas há um debate quente entre França e Bélgica sobre a paternidade da batata frita. Isso ocorre porque os dois países possuem pratos feitos com o tubérculo, mas sem documentos que determinem com exatidão o surgimento deles. Os belgas afirmam que 100 anos antes já preparavam a versão frita.
Neste período, a Guerra da Sucessão Austríaca acontecia, transcorrendo em grande parte em território da Bélgica atual. Teriam sido os moradores desta região a apresentar aos soldados franceses a batata frita e estes a introduzirem o prato no território francês. A ausência de documentos oficiais ajudou a perpetuar a versão francesa da história do aperitivo.
E a França ainda ajudou norte-americanos e britânicos a se apaixonaram pela forma frita da batata. Estes, por sua vez, criaram suas próprias apresentações: com sanduíches, para o Tio Sam; com peixes, para os discípulos da Rainha Elizabeth. A título de curiosidade, a Bélgica detém o maior índice de consumo per capita de batatas fritas da Europa. Frita ironia.
O farmacêutico Antoine-Augustin Parmentier. (Fonte: Wikimedia Commons)
Levadas pelos exploradores espanhóis no início do século XVI, a batata chegou com certo ceticismo ao continente europeu. A associação com a culinária francesa é responsabilidade do farmacêutico Antoine-Augustin Parmentier, que acreditava que o tubérculo seria um ingrediente versátil. Ele manteve as primeiras grandes plantações locais.
Parmentier deu uma forma de preparar jantares verdadeiramente extravagantes em que a batata era a protagonista. Uma das formas de exibição da iguaria era sua versão crua, cortada em pequenos palitos e frita em óleo fervente. Até o início do século XX, as fritas eram bastante restritas à França, situação que se reverteu com a Primeira Guerra Mundial.
O período bélico exigia que os soldados se alimentassem com refeições simples e bastante calóricas, capazes de conferir energia necessária para os combates. Foi desta forma que os norte-americanos, principalmente, pegaram apreço pelo aperitivo e o levaram para os Estados Unidos, onde a iguaria mudou completamente de patamar.
(Fonte: Frietmuseum/Reprodução)
O mundo consome onze milhões toneladas de fritas por ano. Apesar de os franceses levarem a fama, são os belgas os verdadeiros fascinados por batata frita. O país europeu apresenta uma forma muito específica de apresentação do tubérculo, que envolve a maneira de plantação, armazenamento e corte.
No pequeno país, a iguaria é um patrimônio gastronômico, ao lado das cervejas e dos chocolates. Segundo dados oficiais, o consumo per capita dos belgas é da ordem de 30 quilos por ano - no Brasil, os dados da Associação Brasileira da Batata (ABBA) apontam que nosso consumo é próximo a 2,7 quilos anuais.
Na Bélgica, você encontra mais de 5 mil barracas de venda de batatas fritas chamadas de frikots e dois museus dedicados ao prato. Home Frit’ Home, em Bruxelas, e o Frietmuseum, em Bruges, este último em formato que é uma verdadeira viagem pela história da batata através dos séculos até a degustação de fritas. O melhor tipo de museu.