Artes/cultura
28/07/2022 às 09:18•2 min de leitura
Calça jeans de cintura alta, roupas tie-dye, sapatos de plataforma, óculos de armação circular e estampas. Se você viveu bem a década de 1970, então, provavelmente, em algum momento, entrou para algumas dessas tendências citadas — ou até mesmo outras que tomaram conta do período.
Então é possível que você tenha ouvido falar dos anéis do humor, inventados nessa época, que prometiam mudar de cor com base nas alterações de seu estado emocional. Apesar de ser algo do século passado, a ideia surgiu devido a um assunto muito atual: estresse no trabalho. Em meados de 1975, Joshua Reynolds vivia uma rotina infernal no movimentado centro empresarial do Wall Street, em Nova York, Estados Unidos, quando começou a estudar biofeedback – um método que mede os estímulos corporais controlados pelo cérebro em determinadas situações. Ou seja, um medidor automático de nossas reações.
Foi assim que ele criou o anel como uma forma de avaliar as emoções dos indivíduos para ajudá-los a meditar e controlar sua ansiedade. Ao colocar o anel, se a cor preta surgisse, significava seriedade, intensidade, depressão, estresse recuo ou mistério; o roxo indicava felicidade e romance; o azul, calma e tranquilidade; verde significava que nada estava acontecendo; amarelo era tensão ou animação; já o marrom ou cinza apontavam para nervosismo e ansiedade.
(Fonte: SuperRadNow/Reprodução)
Nada ironicamente, no ano seguinte à invenção de Reynolds, o ensaísta Tom Wolfe cunhou o termo “década do eu” ao publicar seu ensaio A Década do Eu e Terceiro Grande Despertar, se referindo exatamente ao momento de extremo individualismo dos norte-americanos, que estavam se afastando totalmente do comunitarismo, em claro contraste com os valores sociais predominantes da década anterior, em sua maioria motivado pelo período atômico do país e o cenário da Guerra Fria. E isso tinha tudo a ver com o anel do humor.
Esse novo senso de independência em um dos momentos mais desastrosos dos EUA, oriundo de um fatalismo, fez os americanos externarem que nada estava bem, e que eles queriam que todo mundo soubesse disso, ainda que fosse carregado de um extremo sensacionalismo.
O designer de joias Marvin Wernick até teve a mesma ideia que Reynolds ao ver um amigo médico usar fita termocrômica na testa de um dos pacientes, porém apenas Reynolds conseguiu a patente para o anel, visto que era o único que tinha as melhores conexões comerciais.
(Fonte: Ripley's/Reprodução)
O inventor vendeu anéis do humor folheados a prata e ouro por US$ 45 e US$ 500, respectivamente. Apesar dos preços altos, o público amou a proposta – claro – e não hesitou em adquirir o seu, passando a tendência adiante até que celebridades, como Barba Streisand, estivessem usando um.
Em 1 ano, Reynolds abandou seu trabalho estressante de Wall Street ao acumular mais de US$ 20 milhões em sua conta bancária com o novo produto que ninguém tirava do dedo, vendendo cerca de 40 milhões de peças. E como sempre acontece, replicadores e imitadores se interessaram pelo anel e inundaram o mercado com eles, vendendo a preços de bugigangas em qualquer local possível, dando acessibilidade para às massas, mas fazendo Reynolds assinar sua declaração de falência 2 anos após o lançamento de sua invenção.
(Fonte: The Banner Newspaper/Reprodução)
Demorou até 1992 para que Reynolds se reerguesse na indústria, só que, dessa vez, ao lançar um aparelho de ginásticas chamado Thighmaster. Até lá, os anéis de humor que ele havia inventado já estavam ficando para trás, muito embora tenham feito sucesso durante os anos 2000.
Os anéis perderam a força quando a ciência passou a estudá-los, deixando claro que os efeitos emocionais tinham pouca influência no comportamento da pedra colocada no objeto, que era feita de um cristal líquido de colesterol sensível ao calor, envolto em quartzo ou vidro e projetado para responder à temperatura.
Portanto, os anéis eram sujeitos a serem mais sensíveis aos fatores externos, como o tempo, do que internos, como o humor. E isso foi lucrativo o suficiente para um tempo em que as pessoas estavam cansadas de explicações.